Henrique Amorim
As 50 famílias que tiveram suas casas destruídas ou interditadas na tragédia de 2011 e foram contempladas há dois meses com casas no condomínio residencial Parque das Flores, no distrito de Conselheiro Paulino, entregues pelo governo do estado, realizaram um sonho ao reiniciar suas vidas, mas a comunidade se queixa que várias reivindicações não atendidas. Os moradores reclamam que a administração do condomínio tem sido intransigente aos pedidos para construções de garagens e áreas de serviço e ampliação de varandas. Tudo para evitar que "puxadinhos" descaracterizem o condomínio. A maioria dos moradores concorda com o pensamento da administração, mas sugere que as adaptações sejam padronizadas e até, quem sabe, realizadas num mutirão. A ideia já teria sido apresentada, mas não foi ainda aprovada.
"Tenho dois filhos pequenos que em dias de chuvas são obrigados a ficar somente dentro de casa porque não há área coberta do lado de fora. Estendermos roupas lavadas em dias úmidos é outra dificuldade. Se pudéssemos pelo menos instalar um telheiro já adiantaria bastante", opina a moradora da Rua A. Ela se queixa ainda que a administração não permite qualquer adaptação para melhorias internas das casas modulares de dois quartos, banheiro e sala e cozinha conjugados, erguidos com materiais de policarbonato, um tipo de PVC, que compõem as paredes e o telhado. O material é revestido com espuma, que mantém a climatização. As pias das cozinhas e os tanques são de fibras e frágeis, segundo alguns moradores.
"Ganhei um gabinete com armários para colocar sob a pia e não deixaram instalar. A bancada da pia é tão fraca que não dá nem para colocar muita louça para lavar dentro da cuba de uma só vez por causa do peso. A pia está arriando. Ela só é presa na parede de PVC por uma camada de cimento branco. Tenho medo que venha abaixo a qualquer momento", reclama outra moradora do condomínio Parque das Flores. Em muitas casas a reclamação unânime é quanto ao caimento do piso dos banheiros. O piso do box foi colocado no mesmo nível do piso do banheiro e dos demais cômodos. Como em alguma casa o caimento está irregular, sempre que os moradores tomam banho, a água, que deveria escorrer para o ralo, acaba alagando o banheiro e a cozinha.
Outra moradora da Rua A se queixa que perdeu a garantia da nova casa porque seu marido instalou um degrau de PVC no box para reter a água do banho evitando alagamentos. "Nossa intenção era futuramente instalar um blindex aqui, mas a fiscalização do condomínio proibiu, alegando que as paredes de plástico não podem ser perfuradas. Ora, se nós ganhamos a casa, não podemos adaptá-la internamente do nosso jeito para um melhor conforto?", questiona ela, apontando para uma rachadura na parte externa da casa junto ao quintal. "Temo que o terreno esteja cedendo. Será que aqui pode ser também uma área de risco?", diz a mulher vítima de duas tragédias seguidas. Ela perdeu sua casa no Parque das Flores, nas chuvas de 2007, e outra em 2011 na Lagoa Seca, também em Conselheiro Paulino.

O condomínio residencial Parque das Flores já abriga 50 famílias atingidas pela tragédia das chuvas,
mas ainda faltam outras cem unidades a serem construídas pelo estado no local

Algumas casas já apresentam rachaduras no piso da área externa. Moradores temem
que o terreno onde foi construído o novo condomínio esteja cedendo
Prefeitura constrói mais 50 casas junto ao novo condomínio: ainda faltam outras cem do Estado
A associação de moradores questiona também a falta de informações sobre a construção das demais cem casas modulares do governo estadual no local. Logo no acesso ao condomínio, uma placa informa a construção ali de 150 casas modulares orçadas em mais de R$ 8,55 milhões. Até agora somente 50 foram construídas e entregues. Ainda não há previsão de quando terão início as obras das cem unidades restantes. A Prefeitura ergue junto ao conjunto outras 50 casas de dois quartos, cada com sala e cozinhas conjugadas, todas de alvenaria, com previsão de inauguração para breve. O investimento já preocupa alguns moradores das casas modulares do estado, já que as casas da Prefeitura terão caixas de água de mil litros cada, enquanto as casas já existentes são abastecidas com caixas de 300 litros.
O condomínio ainda sofre com a ação de vândalos que recentemente se banharam no reservatório que abastece as caixa de águas das 50 casas existentes, inclusive urinando e defecando no local. O ato criminoso obrigou a concessionária Águas de Nova Friburgo a ter que esvaziar todo o reservatório, desinfetá-lo e depois reabastecê-lo, o que ocasionou transtorno e um grande desperdício de água.

Na parte mais alta do condomínio outras 50 casas, de alvenaria, estão sendo
construídas pela Prefeitura com previsão de entrega para breve

Perigo: uma enorme cratera junto a uma das casas construídas pela Prefeitura
representa uma ameaça de deslizamento no local que precisa ser contida urgentemente
Na área externa, ruas estreitas impedem coleta de lixo regular e tráfego de ônibus
Mesmo satisfeitos com os novos lares, os moradores do condomínio residencial Parque das Flores que possuem carros se dizem prejudicados com a largura estreita das ruas. Embora bem asfaltadas e niveladas, as vias têm apenas quatro metros de largura. Com o impedimento para construção de garagens, o jeito é estacionar os veículos na porta das casas junto ao meio-fio, restando apenas um pequeno espaço para a passagem de demais veículos. "Com isso os caminhões de coleta de lixo não conseguem passar e o serviço fica deficiente. O caminhão só vem até algumas ruas que estejam sem carros estacionados no momento. O jeito então é levar o lixo até as esquinas das ruas. Sem caçambas, cachorros acabam espalhando os detritos pelo caminho", observa Rafael Veroneze, presidente da Associação de Moradores do Parque das Flores.
Ele conta ainda que a deficiência no transporte coletivo no condomínio é outra reivindicação corrente na comunidade. Os ônibus da linha Centro-Parque das Flores só tem o itinerário estendido até próximo ao condomínio somente cinco vezes por dia. E mesmo assim os passageiros são obrigados a continuar a viagem subindo a pé cerca de 300 metros até o condomínio. "Nos horários que os ônibus não têm o trajeto estendido, o jeito é caminhar um quilômetro até o ponto final no Parque das Flores e amargar às vezes uma longa espera. Os ônibus dessa linha circulam com intervalos de uma hora e dez minutos entre as partidas, isso quando não há atrasos por causa dos engarrafamentos em Conselheiro e no Centro", completa Rafael.

As ruas do condomínio residencial com casas modulares são bem estreitas. Com veículos de moradores
estacionados, a passagem de outros é dificultada: caminhões de lixo não passam; entrega de gás só com pick-ups
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