Amine Silvares
A 8ª Parada do Orgulho LGBT de Nova Friburgo está marcada para este domingo, 2, e deverá contar com a participação de milhares de pessoas ao longo da Avenida Alberto Braune. Neste fim de semana, a concentração começa às 13h, na Praça Dermeval Barbosa Moreira. A cada ano mais pessoas vêm apoiar a iniciativa e não são só os LGBTs que participam. No entanto, o evento pode criar a ilusão de que os direitos já foram conquistados e que não existe mais preconceito. Não poderia estar mais longe da realidade.
A coordenadora do Centro de Referência Hanna Suzart, Sílvia Furtado, explica que os crimes ainda acontecem, mas que nem sempre a violência é relatada. “Aqui a demanda é especialmente pela violência que o homossexual sofre em sua própria casa”, explicou. Ameaças e xingamentos são comuns, especialmente em locais como escolas e locais de trabalho. “A população jovem não se restringe mais àqueles ambientes que a gente chama de ‘guetos LGBT’. Agora ela não quer mais ficar nesse ambiente, elas querem ter acesso aos lugares públicos. E quanto mais se ampliam esses espaços, mais forte é a reação”, contou.
Em Nova Friburgo os casos de violência não costumam ser relatados. “Muitas vezes a pessoa não se sente confortável para fazer uma denúncia. Aqui no Hanna Suzart atendemos casos sérios, mas não são todos que têm coragem de denunciar. Imagina a pessoa ter que denunciar a própria mãe ou a própria família? Isso é bastante comum, essa vergonha”, relatou.
A legislação vigente não protege a população LGBT dos crimes de ódio, que incluem a violência física, psicológica e emocional. Muitos argumentam que crime é crime e que não há necessidade de resguardar um segmento específico, mas não é bem assim. Sílvia informa que “é importante separar, pois esses crimes estão sendo cometidos contra uma população específica que está sofrendo a violação dos seus direitos. Se um determinado grupo de pessoas é discriminado, tolhido de seus direitos e tratado com diferença em função da sua orientação sexual, que é algo inerente ao ser humano, é preciso criar leis específicas que protejam esses cidadãos para que eles possam exercer sua cidadania plena e sua existência.” Com o risco de agravamento da violência, leis como a PLC 122, que criminaliza a homofobia, se tornam cada vez mais importantes.
Informação é peça-chave para a ampliação dos valores. Nos últimos anos o poder público, especialmente no Estado do Rio de Janeiro, tem criado uma série de medidas para informar a população, como o programa “Rio sem homofobia”. Há ainda o dique-180 que dá orientação sobre identidade de gênero, sobre orientação sexual e também ajuda o jovem que não sabe o que está acontecendo, quer esclarecimentos e nem sempre pode procurar um psicólogo. “Temos também o disque-100, para questões de direitos humanos que tem recebido denúncias sobre a violência que a população LGBT sofre”, revelou Sílvia.
Espaços seguros são necessários
A boate Stargate se tornou um ambiente seguro para a população LGBT em Nova Friburgo. Depois de ter ajudado a trazer o Centro de Referência Hanna Suzart para a cidade, William Ferro, proprietário da casa noturna, conta que “as pessoas que vão lá têm um espaço livre e sabem que podem ficar tranquilas”.
Um ambiente seguro, no entanto, nem sempre é encontrado fora da boate. “Houve uma época em que as pessoas ficavam com medo de passar ali debaixo do viaduto”, relatou. Mesmo assim, William afirma que não são frequentes os casos de violência física e que é mais comum ouvir xingamentos e provocações. Ele também já foi vítima de discriminação e bullying por causa de sua orientação sexual.
À frente da ONG Amores há quase oito anos, que ajudou a realizar as primeiras paradas do orgulho LGBT por aqui, ele afirma que ainda não há políticas eficientes na cidade para agregar as ONGs já existentes e ampliar o trabalho de apoio e visibilidade aos LGBTs. “São cinco grupos na cidade, mas não existe uma agregação. O movimento não se fortifica”, ponderou.
William destacou ainda a importância da inclusão na sociedade. “O grupo fez muitos projetos, futebol com renda revertida para uma instituição filantrópica e a gente procurava misturar e não segmentar”, relatou. A informação é essencial para garantir direitos humanos e civis à população LGBT. “A homofobia é um medo irracional dos homossexuais. As pessoas não sabem o que é e tem medo do que não conhece. O grande problema do preconceito é justamente que a sociedade heteronormativa não equipara as sexualidades, é uma sociedade machista”, finalizou.
Você acha que o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo deve ser legalizado?
A união civil entre pessoas do mesmo sexo foi aprovada pelo STF em maio e o novo Código Penal está sendo elaborado para admitir o casamento entre homossexuais. A medida transformará este privilégio em direito universal e dará a todos os casais acesso a benefícios como herança, pensão em caso de separação, adoção, além de poder ser incluídos em planos de saúde.
A Voz da Serra foi às ruas saber o que pensam populares sobre este assunto. Alegando motivos religiosos, uma parte argumenta que os dogmas religiosos devem pautar a Constituição. No entanto, há aqueles que entendem que a legislação deve ser para todos, incluindo as minorias. Com opiniões bem divididas, o tema ainda gera polêmica.
“Não sou a favor. Acho que fica chato especialmente para as crianças vendo homens se casando com homens e mulheres com mulher. Você tá vendo na televisão homens namorando homens e eu acho feio. Seu filho olha pra você e pergunta o que é aquilo. E aí? Acho errado.”
Robson da Silva, 36 anos, balconista, Loteamento Floresta
“Eu sou contra, pois o que está na Bíblia que Deus fez o homem e a mulher para crescer e se multiplicar, se unir. Homem com homem e mulher com mulher não é isso, por isso eu sou contra. É o final dos tempos. O livro Apocalipse diz que tudo isso ia acontecer mesmo e se formos levar em consideração, daqui a pouco vai estar todo mundo casando com todo mundo.”
Juarez Francisco de Oliveira, 46 anos, aposentado, Duas Pedras
“Sou totalmente a favor. Não há nada de errado em relação a isso. São um casal, existe amor. Um homem com um homem ou uma mulher com uma mulher é um casal normal, como qualquer outro.”
Natália Amendola, 26 anos, psicanalista, Rio de Janeiro
“Eu acho fora do normal. Fui criada na igreja e acho que Deus fez o homem para mulher e a mulher para o homem.”
Maria Izabel Gomes da Cunha, 56 anos, merendeira, Perissê
“Não sou contra. Se casar é uma escolha de cada um. Sou a favor do casamento civil porque isso é escolha de cada um, acho que a gente não deve dizer que não pode. Se eles querem, por que não?”
Jéssica Barroso, 20 anos, desempregada, Theodoro
“Eu sou contra, pois acho que o ser humano não foi feito pra isso. Foge da nossa natureza, foge da realidade. Eu acho que fomos nós quem criamos essa coisa de gostar de pessoas do mesmo sexo e eu sou contra.”
Marco Antônio Diniz, 30 anos, oficial de ferragem, Monnerat
“Sim, sou a favor. O casamento civil deveria ser um direito, e não um privilégio. Se as igrejas e outros templos religiosos não quiserem realizar esse tipo de união, têm esse direito. No entanto, dentro de um Estado laico, como é o brasileiro, ou pelo menos como o brasileiro deveria ser de acordo com a nossa constituição, a religião, que é uma opção pessoal de cada um, não deveria ser levada em conta. O Estado deve ser para todos e não apenas para um grupo de pessoas. Direitos iguais são a base da democracia.”
Clara Santiago, 28 anos, empresária, Rio de Janeiro
“Com certeza. Tem gente que exagera dizendo que o mundo vai acabar, mas até parece que vai todo mundo virar homossexual. A gente já tem gente demais nesse planeta, muito ódio, muita guerra. Vamos deixar as pessoas se amar em paz que é melhor para todo mundo.”
Antônio Silva, 32 anos, empresário, Teresópolis
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