Parabéns para você

Carlos Emerson Junior

No próximo dia 16 tem festa! Nossa querida Nova Friburgo completa 194 aninhos, com o corpo meio malcuidado, é verdade, afinal ninguém sai ileso de um desastre como o de janeiro do ano passado, mas, em compensação, cheia de planos na cabeça e olhando para frente com esperança.

Muita gente acha que não temos motivo algum para comemorar e todas as energias devem ser canalizadas para a reconstrução da cidade. Perdoem-me, discordo veementemente. Um aniversário, principalmente o de Nova Friburgo, tem sempre um significado especial, ainda mais se lembrarmos que é a casa de quase duzentas mil pessoas, sem contar os veranistas, turistas, imigrantes, trabalhadores de outras regiões e por aí vai.

E a sua importância histórica não vale? Em 16 de maio de 1818, o rei Dom João VI propôs uma colonização planejada, a fim de promover e dilatar a civilização do Reino do Brasil. Baixou então um decreto que autorizou o estabelecimento de uma colônia de cem famílias suíças na Fazenda do Morro Queimado, no Distrito de Cantagalo, localidade de clima e características naturais semelhantes às de seu país de origem.

Entre 1819 e 1820 chegaram 261 famílias de colonos, muito mais do que havia sido combinado, formando-se assim o núcleo inicial da povoação que tomou o nome de Nova Friburgo. Esse foi o primeiro movimento de imigração de europeus organizado pelo Brasil. O segundo movimento seria dos alemães, que vieram para cá em 1824, substituindo alguns suíços que se dispersaram por toda a região serrana e centro-norte do estado do Rio, em busca de terras férteis e mais acessíveis.

Bom, o resto dessa história... é História!

Quase duzentos anos depois, temos muito trabalho pela frente. Uma cidade é um organismo vivo que deve seu funcionamento ao um conjunto de sistemas que só são percebidos quando surge algum problema, da mesma maneira que acontece quando adoecemos. Mas não estou afirmando que nossa cidade precisa de tratamento médico ou até mesmo uma UTI, longe disso.

O urbanista Nicholas You, presidente de coordenação do Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos (ONU-Habitat), afirma que o grande problema é que não conseguimos (ou não queremos) ver a cidade como uma entidade única, não pensamos em planejamento urbano a longo prazo, pelo contrário, cada setor (água, energia, saneamento básico, moradia, etc.) é independente, não observando o todo. Não somos proativos e geralmente só levantamos da poltrona conforme os acontecimentos.

Ele está correto. Todos sabemos que, cada vez que muda o governo, sofremos com a falta de continuidade de suas políticas públicas. Com raríssimas exceções, cada prefeito recém-eleito quer deixar a sua marca e, no fim das contas, acabamos ficando sem nada, já que as necessidades e o crescimento da cidade dançam ao sabor da evolução tecnológica, situação econômica e alterações climáticas.

Ah sim, não estou esquecendo o Plano Diretor, instrumento básico da política de desenvolvimento dos municípios, cuja principal finalidade é orientar a atuação do poder público e da iniciativa privada, visando assegurar melhores condições de vida para a população. Ele é tão importante que é uma lei mas, sinceramente, quantos leitores aqui realmente conhecem o Plano Diretor de Nova Friburgo? Pois é...

Mas estou divagando e continuando por esse caminho daqui a pouco estaremos discutindo urbanismo e política, em vez de simplesmente festejarmos o aniversário de nossa bela e querida cidade.

Não tenho como negar que gostaria muito que nossas calçadas e ruas estivessem bem-cuidadas, prédios, casas e estabelecimentos comerciais sempre pintados, os rios despoluídos, todas as residências atendidas com saneamento básico e serviços essenciais, a rede de transporte público eficiente e confortável, oportunidades de empregos para todos, educação e saúde de qualidade, o cidadão fazendo sua parte e não jogando lixo em qualquer lugar e, o principal, ninguém mais preocupado com chuvas, inundações e desabamentos.

É um sonho, concordo, mas com união e trabalho dá para chegar lá. Não vamos mudar o mundo, ou melhor, Nova Friburgo, da noite para o dia, mas temos a obrigação de reagir ao 12 de Janeiro reconstruindo um lugar melhor para viver. Ainda é tempo de aprender a enxergar nossa cidade como um todo e entender que ela é uma velha amiga que nos dá abrigo e sustento.

Morar na serra é um privilégio, meus caros, ainda mais em uma cidade como a nossa, cercada por essa natureza exuberante e com um clima abençoado. Somos o seu sangue e ela depende completamente de nós para continuar viva e viçosa por mais duzentos anos.

Feliz aniversário, Nova Friburgo.

* carlosemersonjr@gmail.com