Se ao longo do último século Nova Friburgo foi capaz de saltar de uma sociedade rural escravocrata para um diversificado polo industrial - têxtil, vestuário e metal-mecânico—mesmo diante do fechamento recente de sua pioneira indústria, a Rendas Arp—, as potencialidades do município em diversas áreas são a garantia de sua pujança econômica para o futuro. Pelo menos esta foi uma das conclusões da palestra “1911: o ano do nascimento da indústria e do movimento operário de Nova Friburgo”, proferida pelo professor Ricardo da Gama Rosa Costa, na noite da última quarta-feira, 21, dentro do ciclo “Quartas na História”—realização conjunta da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL/NF), Sindicato do Comércio Varejista e movimento Nova Friburgo 200 Anos.
Ao ser questionado, por exemplo, sobre o futuro da economia local e regional, com base nesse enfoque histórico e seus desdobramentos ao longo dos últimos cem anos, o professor Ricardo Costa foi enfático ao dizer que está na intensa participação da sociedade e nas múltiplas possibilidades de seu potencial empreendedor, desde o comércio, os serviços e o turismo, alguns dos caminhos nos quais ele acredita como possíveis para a retomada do crescimento e do desenvolvimento friburguense. Ele leva em consideração ainda, nos dias de hoje, a evolução tecnológica que pode possibilitar um novo cenário para o município e região.
Desenvolvimento e luta operária
Por quase duas horas, o professor adjunto e coordenador do curso de História da Faculdade de Filosofia Santa Doroteia, com mestrado e doutorado em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF) falou e posteriormente respondeu diversas perguntas do público, entre estudantes e demais interessados. Na plateia estava presente a escritora e historiadora Janaína Botelho, professora da História do Direito do campus Friburgo da Universidade Candido Mendes, que será a palestrante do dia 9 de novembro, também na programação desta temporada 2011 do Quartas na História.
O professor Ricardo iniciou sua palestra mencionando o médico e ex-vereador, ex-prefeito e ex-deputado federal Galdino do Valle Filho, a quem atribuiu o papel de grande motivador do processo de industrialização do município há um século, exatamente a partir de seu apoio e empenho para a instalação da energia elétrica no município.
Ricardo destacou a participação alemã no desenvolvimento industrial, citando os empresários pioneiros—Julius Arp, Maximiliam Falck, Carls e Otto Siemens—bem como o estabelecimento do que ele chama do mito da Suíça Brasileira na formação de um conceito de Nova Friburgo como cidade com diferencial em relação aos demais municípios brasileiros.
Ao falar sobre o movimento operário, o professor e palestrante destacou os nomes dos grandes líderes locais—José Pereira da Costa Filho, o Costinha, que foi operário na Rendas Arp e presidiu o Sindicato Têxtil; Francisco Bravo, o Chiquinho Pimpão, pedreiro e atuante liderança no Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil e na Sociedade Humanitária dos Operários, que chegou a ser eleito vereador, mas que teve seu mandado cassado na época da revolução de 1964 e ainda Arquimedes de Brito, funcionário que chegou a ser chefe de seção na Fábrica de Filó, mas era um ativista sindical nos anos 1950. Em sua palestra, Ricardo ainda rememorou o caso do operário Licínio Teixeira—que hoje denomina o CIEP de Olaria—, morto pela Polícia num confronto grevista da década de 1930, quando em 1933 ocorreu a primeira grande greve local do setor têxtil.
O professor sugeriu aos estudantes presentes temas para pesquisas e indicou uma entrevista com o pedreiro e também líder sindical Silvio Teixeira. Um dos fundadores da Associação dos Aposentados e Pensionistas de Nova Friburgo, Sr. Silvio também foi diretor da Humanitária e tem uma bagagem de histórias a serem resgatadas, como bem lembrou o palestrante.
Importância histórica e potencial do comércio
O empresário e comerciante Braulio Rezende Filho, presidente da CDL e do SinComércio de Nova Friburgo, falou rapidamente após a palestra. Inicialmente agradeceu ao professor Ricardo Costa pela brilhante apresentação, destacando a importância da realização do Quartas na História, “uma vez que Nova Friburgo possui uma história muito rica e que precisa ser cada vez mais revelada ao conhecimento das atuais gerações”. Neste sentido, ele destacou como muito importante a participação dos estudantes e principalmente dos professores de história dos diversos colégios da cidade.
O presidente ainda mencionou o caráter empreendedor do povo friburguense, lembrando o significativo papel das mulheres na implantação da indústria da moda íntima. “A partir de um grupo de 200 mulheres, então demitidas de uma de nossas fábricas, essas mulheres não foram chorar suas mágoas ou apenas lavar roupas no tanque, mas deram a volta por cima e criaram um dos setores que hoje ajudam a sustentar a nossa economia”. O presidente Braulio ainda acrescentou, concordando com o palestrante, que o comércio e o setor de serviços são duas importantes alternativas para a economia local e regional.
As próximas palestras programadas são do cartunista Ziraldo—em data ainda a ser confirmada no próximo mês de outubro—e da professora e historiadora Janaína Botelho, em 9 de novembro.
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