Eu poderia ficar escrevendo o dia inteiro falando de tudo o que sinto, do que não sinto, do que sei e não sei. Tantas coisas... Sobre todas as coisas do mundo, as que gosto e não gosto, as que sonho, as reais e também as que vão além da minha limitada criatividade e imaginação. Sobre algumas pessoas do meu mundo, sobre as que me interessam e também sobre as que suspeito que não me interessam ou não se interessam por mim. Já pedi tanto para entrar na vida de alguns. Já deixei de atender a tantos pedidos de socorro. Poderia ter visto melhor o sol ao lado de tantos. Há conexões que nunca ocorrerão, entretanto há um monte de suspeitas que não se confirmam e acabam por surpreender. Quero começar a ver melhor para sentir mais.
Nesse misto de expectativas e decepções escrevo freneticamente. As palavras cessam a minha fúria, acalmam meu espírito e me mostram que talvez as coisas não sejam exatamente como eu supunha. Aqui fui feliz, ali nem tanto. Lá não me permiti, acolá não me permitiram... Mas não posso passar o tempo todo no autoflagelo, não fui condenado e também não condenei ninguém. Apenas perdi e um ou outro pode ter perdido também. Apenas venci e um ou outro pode ter vencido também. Às vezes, acho que simplesmente não sou desse mundo, noutras confirmo que sou apenas mais um em busca de crenças de felicidade. Somos tantos e estamos tão sós. Somos poucos e estamos juntos.
As folhas secas do jardim, a relva repousada nas folhas ásperas da pequena árvore dependurada na janela do meu quarto. Aqueles poucos metros quadrados que me sufocam e me libertam me dão a dimensão do quanto é lindo lá fora se aqui dentro sinto o que vejo. Há duas formas de ver o que nos circunda. Uma é olhar atento e ir além, outra é apenas deslizar pela superfície. Em nenhuma das duas, possivelmente, se entenderá tudo, mas na primeira é mais provável que você se sinta parte de algo maior. Esse violino que toca longe me faz dançar pelas paredes do céu...
Para que gritar se podemos assoviar? Falar como os pássaros. Observa. Não fui eu que inventei o que digo. Apenas observa e se convida para participar da grande jornada do planeta. A história está acontecendo e nós? Continuamos só nos se perguntando o que fazemos no meio disso tudo? Ficaremos apenas nos amando e nos odiando? Agradecendo e pedindo, culpando e se culpando? Manteremos as canções debaixo dos braços sem que estejam exatamente no coração? Ficaremos assim sendo pais e filhos, sendo amantes e intenções frágeis de amigos sem saber exatamente o que é amizade? Suplicando e chamando atenção, indo e vindo com sonhos de conclusão... Toda a magia está no percorrer e não exatamente no chegar. Há palavras lindas, mas palavras decoradas não são nada sem ação.
Bato no peito e digo: eu existo! Existo e persisto pelo mundo e por alguns muitos que fazem minha existência mais e menos feliz! Quem disse que seria diferente?
Bem-vindos à verdade que pode não ser tão conveniente assim! Não estou aqui para convencer ninguém de suas vocações. Procura e acha. Vasculha e entende. Estamos sozinhos no mesmo barco. Estamos ilhados no mesmo universo. O que sou ou seremos? Ainda estou escrevendo sobre, sabendo que antes mesmo de terminar mais um texto posso antecipar a mim mesmo e todos que minha obra estará sempre por completar, estará sempre inacabada, por terminar... Por mais que pareça que eu já tenha falado de tudo.
As palavras jamais concluirão a definição de tudo em definitivo. Haverá sempre novas descobertas, novas pessoas escapulindo das velhas, rituais e clarões que edificarão novas ordens em cima de antigas estruturas. Parados ou andando velozes sou e somos reticências. Eternas reticências...
Por agora e suspeito que por todo o tempo tal qual conhecemos, sou farelo luminoso que escapa pela loucura de ser humano. Sou verdades ditas mesmo quando não pronunciadas. Sou poeira futura que se constrói no presente. Somos todos tão parecidos, afinal.
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