Palavreando - Testemunhos e respostas - 12 a 14 de novembro 2011

Por Wanderson Nogueira
sexta-feira, 11 de novembro de 2011
por Jornal A Voz da Serra

Disse que cansei. Você argumentou para que eu parasse de ficar estranho. Como se para de ficar estranho? Talvez, eu seja um estranho no meio dessa loucura toda. Se só fosse loucura pura até estaria mais feliz. Mas é loucura má, dessas que a gente não entende. Eu não faria assim... Por que foi dessa forma?

Tento inventar um mundo em que tudo é exatamente como eu gostaria que fosse. Nem tanto. Um mundo em que tudo fosse pelo menos—justo. Afinal, não se pode culpar ninguém pelas próprias tragédias, mas o que se espera é um mínimo de compreensão, de equilíbrio naquilo que se dá para se ter. Se você dá fidelidade, você espera pelo menos uma dose de companheirismo. Se você se dispõe a doar seu tempo, acredita que pelo menos terá uma resposta, ainda que ela seja um não. Me dê um não bem dado, mas não me faça esperar como um tolo que espera por carona em uma estrada deserta. E não minta dizendo que você não é feito também de expectativas e sonhos. Todos, absolutamente todos, são afetados por outras pessoas e ninguém está imune à necessidade de compartilhar momentos. Ninguém ama sozinho e não há quem planeje o mundo só para si.

Desvio dos sentimentos ruins para tentar enxergar os bons. Aprendo. Da forma mais ríspida e cruel. Aprendo errando. Aprendo com os fatos. Aprendo me desvencilhando dos argumentos. Quem argumenta muito tem pouca explicação que se aceite. Por mais que possa parecer preto no branco, a maior das verdades muitas vezes aparece quando é simplesmente sim ou não, é ou não é. Se você se joga eu caio com você... Quem cairá? Se você quer e eu posso te mostrar, então eu mostro tudo o que posso e suponho tudo aquilo que nós não vemos. Espero que faça o mesmo, mas essa garantia—eu não posso cobrar.

Vestido das traças que consomem as palavras nos textos busco o livro na prateleira de meus pensamentos soltos. Clamo por liberdade. Grito sem libertar qualquer som. Minhas tempestades não destroem plantações, nem inundam cidades, ainda que me afoguem e dilacerem minhas vísceras. Somos todos vítimas condenadas. Completo as letras que faltam nos livros já comidos pelos insetos e suponho que ser feliz é possível se escolho bem os meus caminhos, mas a felicidade pode ser que não venha, pode ser que não exista porque não depende apenas de mim.

A vida tem formas intrigantes. Não se desenha exatamente com os traços que desejamos. Há linhas que se desencontram e outras que se arrastam e entortam, quando simplesmente deveriam deslizar para fechar o círculo. Ainda que o dom de perseverar exista, a esperança sem fé pode ser apenas palavra na boca de profetas que vomitam propagandas de refrigerantes.

Cansei de falácias, descansei meus argumentos. Cansei de testemunhos, descansei minhas respostas, especialmente as prontas. O que fui e o que vi, não necessariamente fazem o que eu sou ou o que eu serei. Sou projeto inacabado. Sou obra sempre por terminar. Não bateram a minha laje, ainda que já tenham batido à minha porta. Não sei como será o meu próximo sorriso, mas sei bem como é o meu choro de agora. A gente sempre descreve melhor o que nos vem nessa hora. Não me preocupo em estancar o choro para que a raiva se derreta em mim e quem sabe... Me faça menos testemunho e mais resposta... Ou menos tudo e mais nada. Não ouso presumir como atenderei quem aguarda que eu atenda à porta. Talvez fique aguardando para sempre. Talvez tenha enganado de endereço. Talvez eu convide para entrar. Talvez tenha vindo colher testemunhos e repostas. Talvez não seja ninguém. Aqui dentro é só o vento querendo escapar.

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