Palavreando - Te chamo - 13 a 15 de agosto 2011

Por Wanderson Nogueira
sexta-feira, 12 de agosto de 2011
por Jornal A Voz da Serra

Abri a porta para que você fosse, ainda que não quisesse que partisse. Você voltou por um instante que eu suplicava para ser mais que a breve companhia. E você foi, aparentemente, sem querer ir com promessa selada no olhar de que voltaria. Não vejo a hora para que você volte. Conto os minutos para que eu possa ir ao seu encontro.

Espero e te chamo. Clamo por você ininterruptamente como o vento clama pela poeira que carrega. Transformo gestos em sonhos bons que se realizam. Tocar sua mão é como tirar música de harpas proibidas. Beijar sua boca me leva a um estado de levitação e perco o chão sem preocupação de contrariar as leis da gravidade.

Te chamo não por chamar. Te chamo por algo mais. Te chamo por coisas que não entendo. E não me preocupo com o não entender. Minha vontade é apenas viajar em tudo o que me traz. Viajar até nos meus pensamentos que não descansam nessa insistência em querer te chamar, querer te ter, querer te ver, querer te querer. E, querendo, vou tecendo retalhos a minha imaginação que se pergunta: o que é que eu vou fazer agora? E, a mesma imaginação, responde: vai e chama o que te acende a chama e tudo o que lha aquece a alma e o coração!

É incrível como tudo se encaixa... Logo eu que nunca acreditei que isso fosse possível. À primeira vista. Tão naturalmente. Não imaginei você. Você surgiu e eu te vi. Você permitiu e eu te quis. Reconhecer você assim num dia tão despretensioso dessa coisa toda de querer, gostar, chamar para ficar. E te chamo para dividir comigo isso tudo que pode ser loucura, mas que é tão bom. Sem pudor, com a completa ausência de culpa. Sem pecado, com ardor possível de acender todas as luzes da cidade. Tremo sem temer. Não sabia que a felicidade quando é muito intensa faz a gente tremer tanto. Agora eu sei.

Você até pode dizer que é perigoso! Eu sei. O perigo me chama enquanto te chamo, mas adoro a aventura de se entregar ao ponto de mandar o mundo se danar, porque te chamo para ficar comigo até a última estrela se apagar e a primeira aparecer.

E enquanto escrevo essas declarações penso no seu beijo, quero ficar assim te observando sem te constranger, quero seu carinho, desejo acariciar seu rosto e seu corpo para acarinhar quem sabe a sua alma. Na verdade, cada palavra aqui colocada quer dizer a mesma coisa e diz: te chamo. Te chamo para me inspirar, te chamo para fazer eu te chamar ainda mais.

E te chamo agora, como te chamarei ao ir dormir e ao acordar. Te chamo para girar o mundo comigo, te chamo para fazer nada. Te chamo para ver a lua comigo, te chamo para fugir do sol. Te chamo para o almoço e para o jantar. Te chamo para cantar, para ouvir, dialogar, silenciar com o silêncio de tudo e implicar com esse silêncio todo da madrugada. Te chamo para me inspirar e se intrometer talentosamente em meus textos, meus segredos, minhas manias, meus medos. Te chamo para você se ver como te vejo e para se admirar como te admiro. Te chamo para esperar ainda que seja difícil esperar esses intervalos entre a sua ida e a sua volta. Te chamo pelo guardanapo não usado e peço para que me use e que aceite meu ingênuo convite para te levar para cama.

Espero e te chamo. Clamo por você ao meu lado. Durmo com sorriso escancarado nos lábios pelo seu boa-noite... Boa noite, porque agora nos meus sonhos vou te chamar para me visitar, te chamar para ficar até eu acordar e te chamar de novo para permanecer enquanto vivo o mundo.

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