O mal do século não é o acúmulo de ódio, tampouco de amor. O mal do século é a indiferença. A aversão a sentir é o que tem consumido nossa já confusa humanidade. Sentir seja indignação, compaixão, devoção ou irritação a todo tipo de evento e gente que nos circunda, dia a dia.
Cada dia, cada mês, cada ano temos sentido menos. Sentir tem sido verbo exorcizado pela normalidade anormal da crueldade cotidiana. “Levou três tiros em plena luz do dia.” “Roubou dos cofres públicos cerca de 100 mil reais.” “Os remédios sofrem reajuste de 10% amanhã.” “Idoso é atropelado por causa de racha na avenida principal.” “O teto da escola caiu por falta de manutenção.” “Pacientes aguardam 12 horas na fila à espera de atendimento.” E não é só nas manchetes de jornais que o sentido de tudo parece cair e que os olhos de nossos sentimentos parecem fechar. Meninas estão engravidando na tenra idade. Pais estão se separando. Filhos estão se drogando. Igrejas vendem um pedacinho do céu aqui e acolá. Mentiras são contadas. Relações são feitas com base em interesses mesquinhos. Isso não é normal como não é normal nossa passividade perante tudo isso.
Mas vivemos um novo tempo, num velho mundo, cada vez mais caduco e doente. Porém, esse novo tempo de cada um olhando para seu próprio umbigo não tira a responsabilidade que cada qual tem sobre o mundo. A responsabilidade conscientemente esquecida é tão pior quanto a irresponsabilidade proposital.
Essa história de “tanto faz” se A ou B se eleger, se azul ou amarelo vencer, se direita ou esquerda perdurar, se via C é melhor do que D. O “tanto faz” é preguiça de tomar partido, é medo de quem prefere ver o mundo de cima do muro. “Tanto faz” não é medida, nem ação, mas é uma forma de agir. São aqueles que ficam da arquibancada, passivos, assistindo a tudo, à orla daqueles que sangram e choram, mas participam, lutam, perdem e vencem. É fácil criticar quem fala, se expõe, chora, grita, faz. Difícil é falar, se expor, chorar, gritar e acima de tudo fazer.
Os críticos geralmente são invejosos frustrados numa eterna e infundada busca por tropeços alheios. Não sabem que eles muitas vezes são os entulhos fermentados no chão que promovem a queda. Mas por federem demais, são também a motivação necessária que fazem o caído levantar, emergir e prosseguir, deixando pra trás a pedra (o crítico), mas levando pra frente o aprendizado e a experiência.
omissão deveria ser também um dos pecados capitais. Por falar nisso: “Seja quente ou seja frio, não seja morno que eu te vomito”. Está lá! Não sou eu quem digo, mas as sagradas escrituras bíblicas, na carta de Laudicéia. Lute! Tome posição perante as situações do mundo. Primeiro do seu mundo em particular: sua família, amigos e trabalho. Depois do seu bairro e cidade. Posteriormente, do seu estado e país. Só depois, das coisas dos outros continentes e planetas! Não adianta se preocupar e se indignar com a guerra do Iraque e a fome na África se você sequer olha para o vizinho ao lado que pode estar em condições piores ou parecidas.
Saiba que nem sempre ou quase sempre não se sabe. Simplesmente, não sabemos de nada! Mas lute por acertar! E mesmo que erre a busca já é um acerto. Ame ou odeie, mas não seja indiferente. A indiferença não nos condena, nem nos absolve; nos torna inexistentes.
Deixe o seu comentário