Você já amou alguém ao ponto de sentir dor boa? Dor que não é angústia nem sofrimento. Dor que flerta com verbos de poesia e substantivos de ternura. Dor pela ausência e pela saudade futura que se instalará após os períodos curtos ou longos do estar juntos. Estar junto, física ou espiritualmente, é tudo o que se quer. Se você já sentiu isso sabe do que estou falando e lhe asseguro: é amor do tipo sobrenatural—o mais forte e verdadeiro que existe. O único que é incondicional.
Intenso que alumia e perpetua sua história por gerações. E não precisa necessariamente estar em livros para ser conhecido por todos. Fica no ar, baila com os átomos, voa em todas as camadas da atmosfera e extrapola a Via Láctea. Se mantém vivo em declarações estapafúrdias, mas jamais taxáveis de exageradas. Não existe exagero em amores assim.
Incondicional que se permite tudo e impede todos de magoá-lo, atravessá-lo, impossibilitá-lo. Que é feliz por felicidades simples e mútuas, e, ainda que falte algo, se completa no sonho de ser dois. Afeta quem está à volta, enriquece os dias com luz sorridente de primavera e faz nascer flores até na lama e frutas em galhos mortos de árvores sem raiz.
É amor repleto de paixão adolescente que não envelhece e descobre e se redescobre a cada nova conversa, a cada encontro de mãos e a cada tempestade de beijos envolto em cócegas secretas de quem precisa do outro para sobreviver e prosseguir nessa loucura toda que é viver. E aí a vida se torna fardo menor. Incrivelmente prazerosa, desabrocha em múltiplos sentimentos que confabulam entre si para a valsa dos grandes bailes que dispensa ensaios e vai para o salão do mundo escancarado com o que se é e se sente sem receio de ser outra coisa. Com todos os defeitos e trejeitos. Com todas as imperfeições que por serem perfeitas para a dança dizimam as possíveis preocupações. E não dá para deixar de aplaudir ainda que cause inveja boa naqueles que jamais viveram um terço de algo parecido.
Os céus se abrem, a terra treme, a Antártida derrete ao louvor dos pinguins que sentem que amores assim vencem e merecem o regozijo de todos os seres que aqui habitam e se entusiasmam pela esperança de quem faz tudo para dar certo! Nesse momento, todos os brindes, das esquinas, dos bares, dos becos, dos palácios, das ceias das favelas e dos altos das montanhas—ainda que não atentem—são para esse amor que transforma o mundo.
Sobrenatural porque é de alma, ainda que invada o peito, encha os olhos de lágrimas boas e os lábios de sorrisos duradouros. E dura na busca do para sempre sendo extremamente feliz nesse passeio.
Amor sem promessas, ainda que seja envolto a pactos que se selam no olhar. Amor que é mais agora, ainda que respeite o que teve ontem e que viceje o futuro. Não mente, não se esconde, se apresenta como o maior de todos e por isso treme na paixão e cresce no necessário desejo de prover terremoto.
Ah! Dor prazerosa que clamo para não partir jamais. Que fique! Que assovie! Que convide os pássaros para me carregar quando eu não puder voar com minhas próprias asas de quem conhece o céu. E deixa essa dor me tornar inspirador... Para desenhar nuvens. Para colher canções. Para escrever nas rugas do mar a corajosa poesia que salta de minhas (nossas) mãos. Porque tudo é nosso! Doo o meu tempo com orgulho e livre me prendo a você. Com apego altruísta de quem quer ver o outro feliz, pois sabe que depende disso para alcançar a tal felicidade também!
Eu já amei assim... Estou amando assim porque é a melhor forma de amor e a que mais considero. Eu me rendo voluntariosamente e tenho certeza de que você também se entregaria por algo assim.
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