Quando eu olho nos olhos de uma pessoa, eu não vejo apenas pupila, íris e córnea. É preciso se aprofundar além da retina e escapar da anatomia ocular. É preciso sentir para enxergar além do sujeito, e perceber que ali está alguém. Alguém com sonhos e expectativas, com medos e anseios, com verdades e mitos, com uma infinidade de histórias, experiências e observações acumuladas que não necessariamente a definem. Você é assim como eu. Somos constituídos de sensações parecidas, com personagens e enredos diversos.
E, pela impossibilidade de definir, é preciso cuidado para não se antecipar e cravar que alguém é isso ou aquilo. Pela maldita opção de preconceber é que perdemos futuros magníficos e pessoas que poderiam mudar nossos destinos. Cada encontro é a oportunidade de experimentar o milagre. Você não vai desperdiçar a chance.
Respeitar. O outro. Cada outro. Não apenas o outro que se escolhe no meio da multidão. Merece respeito e reconhecimento como alguém todo outro que como você quer ser feliz. Todos nós queremos deslizar nos sabores e dissabores de existir. Todos nós queremos olhar para o céu e imaginar que podemos ir além das nossas estrelas. Todos nós queremos coisas muito parecidas, por óticas diferentes. Difere o que vemos, mas sentimos igual.
Temo conviver bem com a superficialidade, tanto quanto temo os perigos da intensidade. Tementes, somos convidados ao equilíbrio. Mas equilíbrio sem paixão é chato. Porém, nem só de paixão viveremos. Haja combustão! O temor é válido, mas é temerário quando paralisa. É preciso coragem com sabedoria. E a razão precisa de emoção, tanto quanto a emoção de razão, ainda que a razão seja esse escape de tudo para ser livre. Liberdade de ser e se enganar, mas nunca se antecipar. É preciso confiar. Quem confia tem menos risco de desperdiçar a vida, tem menos risco de se arrepender do que poderia ter sido e não foi sem saber como seria.
Quando alguém está na sua frente—sinta esse alguém. Esquece o nome e conhece a alma. Deixa o rosto e aprecia o ser. Ouve a música que toca ainda que sejam sinos badalando ou carros acelerando. Respeite quem te acolhe e veja além da retina. Conquiste quem está à sua frente, não com beleza ou eloquentes palavras, mas acima de tudo com seu jeito único de ser. Esquece o tempo e tudo, até os compromissos. Nada é mais importante que aquele instante com aquele alguém, seja quem for. É uma oportunidade única de sentir Deus na criação. É uma chance divina de se ver como abençoado. E a luz vem! O encanto ascende algo que nem você pode explicar! Conexão com o milagre de existir. Conexão com o mundo. E, quando você se conecta com o mundo você percebe que você é parte de um todo, que você é parte de algo maior e que também é responsável pelo que acontece além de seu sapato e estômago.
Somos, afinal, muito mais que passos e comida. Somos nós, todos nós, muito mais que nomes, números e biografias. Ao olhar, ao se olhar, veja além da retina. Escapole da pupila, íris e córnea. Enxerga o sentimento que existe e amplia, diversifica, multiplica, não se antecipa e vai... Essa é a diferença, a sutil diferença que faz um encontro ser algo grandioso. Debruça sobre o momento e esquece o tempo, porque tem alguém à sua frente, vive esse alguém, esse alguém é único e até pode mudar o seu destino...
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