Tem coisas que começam de repente. Sem a gente programar, pensar, imaginar e até mesmo querer. É como a subida de uma montanha-russa. Você entra no carrinho, não sabe bem o caminho que vai percorrer e espera aflita por aquele friozinho impagável na barriga e a batida forte no coração.
Você diz sim a uma simples ida ao cinema e nem percebe que esse momento pode mudar todos os outros que estão por vir. Quando os lábios encostam-se no meio de um filme qualquer, o pulso aumenta, os pés ganham saltos, os olhos veem cores diversas e os ouvidos parecem ouvir sinos. Enfim, você começa a acreditar que as mãos jamais vão ser desprendidas e que as pernas vão ficar eternamente entrelaçadas.
O tempo passa... O tempo... O tempo amigo que às vezes se torna o inimigo. Os sorrisos e gargalhadas se transformam em lágrimas desesperadas. O diálogo gostoso passa a ser conversas intermináveis sobre o trabalho. Os beijos molhados passam a ser selinhos secos. O silêncio perfeito e a simples vontade de estar junto viram monotonias. O abraço grande é distribuído só para os amigos. Mas as pernas entrelaçadas continuam lá. Às vezes com menos frequência, mas com a mesma intensidade.
Por que as coisas mudam? Por que as atitudes variam? Será o costume? A falta de paixão? Será que isso é o que chamam de amadurecimento do amor? Tantas perguntas sem respostas. Tantas respostas agora que vão ficar sem perguntas. Será que demonstrar o amor, o carinho, a admiração, cuidar e querer estar perto podem ser os problemas? Aí... Aí, não sei mais! O príncipe vira sapo, a Cinderela se transforma em trapos... Tudo muda... Será que não é a gente que muda? Mais uma vez eu não sei...
Quero ter alguém ao meu lado que eu possa receber buquê de estrelas. Que eu possa dormir abraçadinha, ver filme juntinho, chorar de comédia romântica, rir das piadas mais sem graças, jamais desprender as mãos e manter as pernas entrelaçadas.
Por que as coisas mudaram? Por que os anjos perderam as suas asas? Por que os sonhos ficaram para depois? Por que o carinho parece ter mudado? Quantas perguntas sem resposta. Mas ao mesmo tempo, algumas certezas. Amo incondicionalmente. Acredito em um futuro juntos. Preciso de novas avaliações. Passei a amar menos o outro para passar a amar mais a mim mesma. Tive que ir embora. Sem olhar para trás. Levei dentro da mochila muito mais do que roupas e sapatos. Levei os sonhos, as vontades, as esperanças, a força, as lembranças, mas não a vontade ter pernas entrelaçadas. Fui e não sei se volto. Fui querendo voltar. Fui sabendo que a partida era a melhor solução. Fui deixando o meu cheiro. Fui, mas deixei uma parte importante de mim. Talvez o meu coração tenha ficado em uma das gavetas. Talvez eu precise buscá-lo. Talvez eu jamais o recupere. Talvez eu busque para ocupar outro espaço. O carrinho da montanha-russa que subiu há quatro anos começa a descer e o friozinho volta à barriga. Fica ainda a incerteza se o brinquedo vai voltar aos trilhos e enfim subir novamente.
Certa vez uma pessoa importante para mim escreveu: “Pois assim como é bom o encontro, é triste a despedida”. Por que o encontro tem que acabar? Por que temos que despedir? Continuo sem saber. Mas sei que as mãos podem estar desprendidas, mas as pernas ainda estão entrelaçadas.
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