Meus filhos ainda não nasceram, há projetos de livros no meu travesseiro e, ainda que tenha plantado algumas árvores, ainda não vi nenhuma delas florescerem ou darem frutos. Se essas são as três grandes coisas a se fazer na vida, não sei se já vivi o suficiente ou se a vida é realmente tão interessante. Mas quando penso no que faz uma vida ser bem-vivida e interessante, penso que os resultados pouco importam, mas sim o que os leva a tê-los ou não tê-los.
Não dá para mensurar uma vida apurando todos os dias de uma vida. Porque a vida não é bem uma equação ou um problema que necessita de solução. Não é preciso ter resposta para tudo quando, na verdade, a beleza pode estar na pergunta.
Assim, cada dia tem sua história, cada hora tem seu relato. Há horas boas e ruins. Há dias melhores do que outros. Há encontros mais frutíferos e também mais fúteis, mais vazios — indiferentes. Há escolhas certas e outras erradas.
Enganos existem para serem cometidos, por isso os dons do pecado e do perdão. Voltar atrás não é possível, mas corrigir é uma arte que faz diferença próxima ou maior do que o acerto imediato. Seja bom ou ruim, melhor ou pior, proveitoso ou indiferente, certo ou errado não dá para simplesmente ocultar da memória, expurgar da história os acontecimentos que descrevem nossa jornada por esse tempo-espaço que temos e que como todo tempo-espaço — finda.
Todos os acontecimentos, todas as linhas escritas e os minutos vividos estão e estarão lá moldando nossa personalidade, nossas crenças e medos. Incrustados em nossas almas, paralisando e motivando nossos corações. Não desaparecem nunca... Mesmo quando por demência, impaciência ou inobservância deixamos de lado aquilo que já importou um dia ou ainda importa e que apenas desistimos. Não dá para fingir, ainda que às vezes teimemos em fingir, que não aconteceu. Até as desistências permanecem lá como sonhos condenados a serem sempre sonhos. Até as pessoas que nos deixaram ou que deixamos permanecem lá como estrelas que brilham e ainda que distantes, nos guiam para o que queremos e nos antecipam o que não queremos.
E sentiremos saudades de momentos... Por mais que tenhamos vocação e talento, jamais repetiremos qualquer instante que fabricou essa saudade. Mas falaremos deles com nostalgia capaz de escorrer do peito lágrimas de dor e alegria. É dessa forma que a saudade avassala nossa alma, demonstrando que, tenha sido feliz ou triste, o mundo continua a girar e a vida segue seu ritmo. Quer você continue a dançar, quer você não continue a dançar.
Talvez, você não tenha se tornado a promessa que foi lá atrás. Talvez, sequer você tenha cumprindo as promessas que fez para si mesmo. Talvez, o destino ou sei lá que nome você dá a essa energia que influencia os astros e a natureza a te facilitar aquilo e dificultar aquele, tenha te forçado para outro lugar. Talvez, talvez, talvez.
Agora. Nesse instante. Você não é esse talvez todo. No agora não somos talvez algum. Somos o que somos e temos o que temos, além de promessas de um futuro bom. Promessas que se repetem insistentemente no futuro cada vez menor e mais urgente. Sim. Há certo ponto da jornada que o passado se torna maior do que a perspectiva do futuro. É nesses momentos que mais vale a simples promessa do presente do que toda a grande promessa do futuro. Lá, aliás, muito além dele estarão um monte de talvez. Mas o talvez futuro não interesse agora.
Você precisa de respostas? Formule bem as perguntas! Você precisa de encontros? Seja o encontro que sempre quis ser! A vida é mais do que filhos, projetos, árvores, punhado de talvez e promessas não cumpridas e a se cumprir. Ela pode ser isso tudo, mas com certeza é bem mais do que tudo isso!
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