Palavreando - Por quem você morreria? - 6 a 8 de novembro.

Por Wanderson Nogueira
sexta-feira, 05 de novembro de 2010
por Jornal A Voz da Serra

Se você pudesse... Se tivesse o direito de escolher... A possibilidade de evitar a perda... Se você pudesse... Por quem você morreria? Por quem você conseguiria vencer seus instintos de sobrevivência e daria a sua própria vida?

Não, não se trata apenas daqueles pelos quais você choraria ou trocaria algo ou alguém pela felicidade do outro. Não, não se trata daqueles pelos quais você apenas gosta, tampouco por aqueles que você nutre admiração ou tem ligação sanguínea. Não se trata também de ideal, revolução, pátria ou religião. Nem se trata desse sentimento de humanidade que todos possuem de uma maneira ou de outra, mas que existe em cada um de nós. Esse mesmo sentimento que você tem até mesmo por alguns desconhecidos do outro lado do Atlântico.

Trata-se daqueles que você ama a expoentes infinitos, que ama tanto ao ponto de dar a sua própria vida.

Por quem você morreria?

Por poucos, alguns que talvez nem encham as duas palmas de suas mãos. Não é verdade?

Se fosse responder de forma imediata, provavelmente você diria que morreria por muitos, por quase todos. Mas se você pensar um pouco, se você se visualizar enfrentando todos os seus instintos de sobrevivência e até mesmo o seu egoísmo de não ser o último a fechar a porta ou de ter que sobreviver com certa dor a todos esses que você adora conviver, sua resposta talvez não seja tão segura, tão rápida. Pense.

Você saberá, então, que na verdade, você morreria só por aqueles que você mais ama, não por você, pelo seu egoísmo, por seu medo de ficar sozinho, mas por eles. Não por ficar menos completo, menos feliz, em troca de paz, por não ter que chorar e até conviver para sempre com a saudade. Mas por que você sabe que é mais importante aquela pessoa ficar do que você. Que aquela pessoa merece viver por mais um tempo. Que você abençoa aquela pessoa e confia a ela o direito de permanecer no mundo para ser feliz mais um pouco, para experimentar a vida mais um pouco. Claro que se você pudesse compartilhar com ela isso tudo, obviamente, você escolheria ficar, mas se isso não fosse possível, por quem você morreria?

Talvez exista algo acima do amor. Esse algo acima do amor que as boas mães conhecem bem. Esse algo acima do amor que os irmãos de alma e coração experimentam. Um amor que extrapola o próprio amor. O amor sem interesse e que sobrevive até mesmo às ausências naturais de qualquer relação. O amor que necessita apenas de si mesmo e se estende ao infinito da eternidade ao ponto de se dar, sem precisar receber e que ainda sim recebe toda a felicidade do mundo, felicidade inimaginável, incomensurável, ao ponto que morrer por aquela pessoa torna-o um feliz protetor, autointitulado guardião e anjo que sorri ao ver a vida completando seu ciclo naquele que escolheu e se prometeu.

O amor pode não ser tudo o que supomos. O amor pode ser mais do que o que começa e termina aqui. Pode ser mais que todo esse exagero de ser tudo e nada, dessa entrega que para os outros pode parecer estúpida, mas que, entenda-se, livre de egoísmos é libertadora, apaixonante e até satisfatória.

Então, me responda: por quem você morreria? Por quantos, por quais, por quem você teria a honra de morrer para esperar, sem qualquer promessa de reencontro, até a eternidade, em outras vidas, em outros planetas, em outras eras, em outros espaços, em outros mistérios, em outras novas construções desse amor que entrega o que há de mais sagrado e impagável que é a própria vida.

Se você pudesse... Se tivesse o direito de escolher... A possibilidade de evitar a perda... Se você pudesse... Por quem você morreria? Por quem você conseguiria vencer seus instintos de sobrevivência e daria a sua própria vida? Por quem você morreria?

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