O que vai ser de mim sem você? Sem você aqui tudo perde sentido, até o sentido de ser e estar, até o motivo de querer ficar. É vazio e escuro, ainda que tudo fique mais claro na sua ausência: eu não posso viver sem você. Preciso do seu abraço... Do seu silêncio estarrecedor. Preciso da raiva que me provoca, tanto quanto dos sorrisos que me faz doer a face, doer a alma, exaurir o coração...
É a música que não sei cantar e ainda assim é a que eu mais gosto. É o poema que não sei declamar e ainda sim o melhor do meu repertório. É a pintura que não posso plagiar e ninguém mais pode. É personagem de filme que ainda não encontrei. Mas ainda sim suponho que possa lhe comparar com os personagens de todos os filmes, ao mesmo tempo em que com personagem de filme nenhum. É o mocinho, o queridinho, o manipulador, o vilão... É tudo o que eu não posso desvendar ainda que decifre uma sílaba e outra, mas nunca a palavra inteira.
Palavras inteiras... É o que me faltam ao te encontrar. Nenhuma palavra se completa quando me aproximo e viajo nos detalhes de seus trejeitos, no charme do seu sorriso, na imensidão dos seus olhos que guardam o mundo e consomem o meu mundo de coisas reais demais. E aí divide comigo o seu mundo de algumas certezas entre as quais que estamos juntos pela vida inteira. Mas a vida inteira passa tão rápida, passa tão ligeira pelos meus dias em que estou com você assistindo e vivendo a vida. E mesmo pelos dias em que estou à sua espera, as horas voam pela ansiedade de poder te reencontrar e te ver de novo.
Você é a minha palavra inteira. Um conjunto imenso de palavras inteiras que se misturam, me confunde e faz bagunça em mim. É tudo aquilo que meus pensamentos já extraíram. É também tudo aquilo que meu coração ainda busca escrever nas montanhas, para que nem as tempestades apaguem o que o mundo precisa testemunhar: as palavras inteiras que escrevi para você, que juntos escrevemos. Porque sem você sou palavra que não se completa, palavra que não se entende, palavra que não se pronuncia...
O que vai ser de mim sem você? Pergunto às estrelas o que seria de mim sem você. Elas não me respondem, talvez porque não tenham alguém que as façam dizer palavras inteiras. Pergunto a mim mesmo e descubro que a sua ausência me faz perder todas as palavras. Recorro à saudade para suplantar a minha falta de talento e recordo a nossa história inacabada e ávida por ser maior do que o tempo, do que o mundo e o universo. Reencontro você nas histórias de nós dois, te encontro de novo após a espera e invento novas palavras inteiras que me devolvem o sentido de ser e estar, querer ficar e talvez ir pra onde você vai, pra onde você for, para qualquer lugar onde tenham as palavras inteiras que me escapam cada vez que te olho e a cada vez que te perco.
Nesse mundo de estranhos, você é a palavra que quis conhecer mais do que qualquer outra. E te quero e suplico que me sufoque com sua presença porque preciso do seu peito, do seu barulho tímido, das suas caretas e palhaçadas, do seu jeito de esconder o que sente, da sua aptidão em ser imperceptível no meio da multidão, da sua lealdade inabalável... Preciso da sua fome tímida que me intimida, tanto quanto do seu medo que me faz ter coragem para te defender e te acompanhar em todos os caminhos até que a vida inteira se acabe para que viva com você para além da vida inteira... Colecionando palavras inteiras, encontrando as palavras inteiras que se desenharam na nossa jornada em que foi palavra inteira para cada palavra inteira que pude cantar, escrever, declamar...
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