Você passou e eu vi, mas fingi não ver para não ter que te cumprimentar. Fiz charme daqueles bobos, mas que fazem efeito. Você sorriu e me procurou como quem é apenas educado. E em menos de um minuto de conversa troquei os pés pelas mãos e revelei o que sinto, ainda que sem declarações. Deixei sem querer você descobrir mais uma vez que eu te quero e insisto em te querer. Meus planos mais uma vez saíram dos planos e eu sendo eu mesmo sou um punhado de coisas ressaltando nos olhos a vontade de querer ser o cara pra você.
Talvez eu seja o cara que procura, talvez não... Mas sei bem que não consigo ser o tal mistério que lhe tira o sono. Sou um eu entregue sem estratagemas, sem sentimentos secretos, sem desvendes a serem descobertos toda vez que fito seus olhos que enfeitiçam.
Te ganho pela insistência, te perco pela imprudência... Te olho, te devoro e tímido desses que não gostam de perder me recolho para quem sabe numa outra oportunidade ser menos atabalhoado e mais indecifrável pra você.
E linda você espera o cara chegar. Sorrio pra tentar dizer que eu posso ser esse cara se você deixar. Você retribui o sorriso achando que estamos sorrindo da mesma coisa, do garçom enrolado ou da moça de poucos panos. O universo conspira para que estreitemos o espaço que nos separa, mas logo chega alguém que não permite ao universo expandir sua colaboração para o destino. Aguardo como quem não sabe esperar e fujo propositalmente de seu radar. Sem perceber iludo ainda mais suas ilusões e te encho de suposições. Confuso te infecto com minhas confusões e nos afastamos até uma próxima oportunidade para que tudo se repita, do flerte disfarçado de educação, do meu tremer por tremor, dos planos que saem do prumo facilmente. Quando na verdade seria muito mais simples se eu dissesse apenas que eu quero ser o cara que procura.
Talvez eu não seja exatamente o baterista de cabelos longos que integra uma banda de rock, nem o nerd com vocação para cientista. Talvez eu não seja o troglodita de ombros largos no supino, nem o desajeitado que corre olhando para o chão. Pode ser que o meu nome esteja no SPC ou pior ainda, talvez meu lábios estejam sujos pelo pecado de quem se diverte enquanto não conquista o que lhe faz abdicar.
Talvez você tenha o poder de me fazer abdicar e ser menos egoísta, mais altruísta, mais propenso ao melhor de mim. Talvez você me entusiasme a acordar mais cedo só para lhe preparar o café. Talvez você não seja nada disso e é isso que adoro mais, porque nada melhor do que a dúvida como imperativo no desafio de descobrir juntos um minuto de cada vez.
Juntos, talvez sejamos a espera insuportável ou a conversa fiada que não deveria ter fim.
Eu quero ser o cara que procura sem ser exatamente o que espera. O cara pra você, minha cara adorada, que lhe causa espanto e surpresa e que não é exatamente previsível. Posso lhe dar o chão e o mundo, mas também posso lhe fazer me odiar, chorar por não me fazer rir... Eu posso ser tudo e nada, mas lhe prometo sempre ser o cara que lhe acolhe nos braços ainda que não saiba conduzir a dança; o cara que lhe faz cócegas no nariz ainda que recuse o seu pedido de brincar com minhas orelhas; o cara que te leva pra jantar depois do cinema ainda que lhe tenha ofertado quilos de pipoca; o cara que sempre estará ali à espera para lhe servir ainda que raramente te leve flores; o cara que sabe pouco do mundo, mas que lhe descreve o universo apenas olhando as estrelas refletidas em seus olhos; o cara que descobre tantas outras possibilidades se você vier junto, mas que estagna se você continua assim tão perto, mas ao mesmo tempo tão distante de mim. Eu quero ser o cara que faz o jogo do amor com você, mas também aquele que termina o jogo e prossegue no amor com você.
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