Palavreando - O balcão

Por Wanderson Nogueira - wandersonnogueira@gmail.com
sexta-feira, 15 de março de 2013
por Jornal A Voz da Serra

Histórias em volta do balcão que é exatamente como a fogueira na beira da praia ou a roda sem nada mesmo ao centro na noite fria de luar. Frio por ser mármore, quente por ser cúmplice daquilo que é dito, ouvido e perpetuado. Pessoas interessantes se merecem. Pessoas desinteressantes—se esquece. O balcão não esquece de ninguém. 
No seu frio espelho de ser mármore é fogo vivo que arde. Na sua mudez virgem de ser estático é peralta livre que voa. Testemunha olhos e olhares que pulam de um sonho para o outro na velocidade de quem não é impedido de ser sonhador. Sonhos são realidades que se quer realizar. Mãos são membros feitos para se dar, sem certeza de receber. O balcão capta tudo e serve muito mais do que apenas para debruce, acalmar cansaço ou sossegar inquietude.
Não há absurdos quando se está em confiança e se há permissão selada no olhar de se dizer tudo. Não há absurdos quando almas interagem e se reconhecem na simples conversa de quem não precisa teorizar tudo. Talvez, absurdo é Plutão nos olhar de lá e nos ver aqui. Absurdo é Plutão nos olhar e se lembrar e saber de nós! Existimos nesse imenso universo repleto de particularidades. Nossas particularidades importam, ainda que sejamos apenas partículas em volta de um balcão cinza de mármore testemunhando vida!  
Quando faltar argumento, conclama a licença poética. Quando faltar vírgula, usa o ponto final mesmo. Mas quando faltar poesia, chama a canção. Porém, se ao final de tudo faltar algo, coloca três pontinhos que a história fica completa pela simples avidez de querer continuar... 
Prosseguimos pela jornada da vida, sapateando, mas tendo no pensamento o balcão. Seria bom ser balcão? Prosopopeia indagante... Melhor manter o ritmo e guardar a inspiração para fazê-la prosperar e sair. Viajar pelas luzes da cidade que corre lá fora no barulho da festa da multidão. É mais um a chegar! É mais um a sair! O que se faz do outro lado do rio, nós fazemos também, com a diferença de que do lado de cá tem cumplicidade. Iremos lá quando quisermos apenas para fazer passar as horas com algumas doses ligeiras de verdade. Não precisamos da verdade o tempo todo, ainda que a admiremos, pelo menos perante o balcão, indiscutivelmente em cada abraço. Impreterivelmente em cada abraço. 
Não! Não insinue que vemos tudo de cima. Não queremos ser Plutão! Mas é bom ser estrela que sendo luz se encontra com o chão! Artistas sempre fascinarão! Admirar faz embarcar, deliberadamente, no encantamento apaixonado de quem sabe o que dizer e faz o que diz. Credibilidade ainda maior quando em torno do balcão. Porque o que o balcão com sua pedra cinza de mármore observa—é sagrado e se torna inesquecível. Irreversível... Talvez! Desde que desvendado o pleno segredo dos olhos.
Assim, no fim das contas, não é a fogueira na praia ou no sítio, tampouco a roda na noite fria ou na tarde quente. Nem o balcão que inspira esses devaneios vividos em fato, ainda que os fatos pouco importem. Mas as pessoas. As pessoas tornam a fogueira na praia mágica, a roda em qualquer estação interessante. As pessoas é que tornam o balcão tão central, tão especial, pois o que realmente importa, não é o seu poder de refletir, mas o que reflete: rostos com alma, histórias compartilhadas e canções que se entoam mesmo quando acaba a festa! A festa nunca acabará, pois ainda que o balcão se despedace, almas nunca se tornarão pó! 

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