A plateia atenta observa... Capta... Rouba para si os movimentos, as frases, o silêncio, a expressão profunda e leva para casa a história com tudo isso mais os mínimos erros, os trejeitos únicos, o olhar da alma, a magnitude suprema - mas nunca o artista. E artistas são assim: criam intimidade, enlaçam no prazer do palco, mas jamais se permitem serem levados pelos espectadores além do curto encontro da tempestade que causam. Artistas são seres que consentem apenas o amor platônico, onde a proximidade é apenas sonho que se mantém, apenas e tão somente, como sonho. E como todo sonho, é repleto da esperança que nunca evoluirá para outra coisa. Afinal, é essa possibilidade que ilude a eternidade, ainda que sobreviva mesmo no impossível.
Intenso. Nunca desinteressante. Louco, ainda que sóbrio. Nunca, nunca vomita verdades plenas, porque bem sabe que verdades não têm donos e são passíveis de mudança. Inebria pela inteligência, fascina pela capacidade, mas conquista mesmo por ser jogador. Desses que não fazem o espectador bocejar nem por um instante. Desses que fazem desconhecer o que é banal, porque o artista execra a banalidade para o anonimato, para a inexistência. Chega e traz luz! Sai e todos percebem que saiu. Porque quando sai deixa o encanto e o suspiro que pede, implora por mais. O artista é perigo que vale a pena. Sobressai no meio da multidão. Sobressai no imenso palco do mundo. Simplesmente sobressai.
E faz o caminho que tem que fazer. Alma de artista só serve a espírito de espectador que refuta o temor mesmo quando o artista esquece o sinto. E espectador se pergunta: afinal, o que quer dizer o artista com o esquecer o sinto? Nada! É difícil querer passar o artista por nada, ainda que considere a hipótese! Porém, os meros mortais sabem bem que artista não é hipótese, tampouco certeza... É essa indefinição o que intriga mais.
Sim! Espectadores mais sensíveis e o artista são adeptos de amores impossíveis que gostam de sentir seus sabores ainda que entre uma dose ou outra de embriaguez. Torna sagrado o segredo, e, por sagrar o segredo e o artista, guarda bem o que a ausência das luzes esconde e jamais abre a cortina para revelar: o artista nunca dorme!
O artista é simplesmente artista em que personagem é adjetivo e realidade também. A verdade do artista é a sua intensidade, sua vontade em perceber e agir no que a vida lhe oferece hoje. Ainda que decore textos e marcações, sua natureza o leva a abrir as portas que tem que abrir agora e não amanhã. Não é plano, nem planejamento. E, mesmo sendo jogador, não é frieza de estratagemas. É natural o sorriso, a colocação, a entonação, o rumo dos passos, sendo sua grande riqueza a captura de detalhes nos milhões de fatos que ocorrem em um segundo. E, o melhor, transforma o que é corriqueiro para a maioria—em poesia.
Assim, a alma de artista se conserva na ingenuidade alheia de quem acha que pode tocar em quem assopra estrelas. Assim, o espectador pede para que o artista nunca esqueça o sinto! Sinta, porque é isso que faz do artista ser artista de fato!
Mas o artista não precisa de conselhos e não espera declarações espontâneas, aliás, não espera nada, a não ser o que vem da sua mente criativa cheia de imaginações! Não espera do espectador declarações, ainda que reconhecimento. O artista necessita do aplauso e voa quando este é efusivamente verdadeiro, mesmo quando não há plateia. E tudo—o artista e o espectador—é puro impulso! Impulsos atraem. Quem é intenso entende o que é impulso e o que eles provocam: glória e tragédia! E o que é se não todas as apresentações que merecem o palco do que misto de glórias e tragédias? Para heróis, vilões e para quem é nenhum dos dois.
Por fim, a chama do espectador só se apaga quando as cortinas se fecham e o espetáculo para o público se encerra! Mas também é sonho do espectador ser mais do que público!
Admiração. Admiração é tudo o que há para sustentar um bom amor! Por isso, o espectador sempre amará o artista, porque acima de tudo admira-o e a admiração faz segui-lo, segui-lo e segui-lo sem cansar... Pelo canto da voz, pelo murmúrio do silêncio, por tudo daquele que no palco ilumina a vontade do espectador em ser parte de outras histórias... Aquelas em que não se paga ingresso e que só se pode entrar nelas com convite de cortesia.
Deixe o seu comentário