Quem vai entender o amor? Estenda a mão quem pode me falar conscientemente do amor? Já ouvi de tudo sobre o amor, desde o que está escrito nas estrelas ao que dá asas para que a alma voe até o céu. Já ouvi dizer também que o amor precisa ser construído, tanto quanto já ouvi que acontece à primeira vista. Não só ouvi como já vi muito sobre o amor! Já vi sofrimento e alegria ainda que momentânea. Já vi entregas insanas e também conquistas planejadas. Já vi o amor acontecer e se desfazer como nuvens em tempestades de verão. Já ouvi, já vi e até vivi, mas confesso que pouco entendo e nada compreendo do amor. Mas não posso negar que é válida toda a experiência. O amor te faz sentir vivo. Faz você perceber que oxigênio não é apenas elemento da tabela periódica de química. Você passa a respirar de fato o ar! Se é leve ou não, isso é outra história. E o que é viver se não experimentar?
O amor é esse misto de coisas que acontecem em um minuto. Você chora, ri, confessa, ouve, faz, se arrepende, se diverte, espera, realiza, se cansa, desiste, nasce, morre, renasce...
O corpo se entrega nos trejeitos, na fala gaguejada que parece sempre dar o recado errado e nas pernas estremecidas que apavoram ainda mais o descontrole sobre si mesmo.
E o amor é extremamente cheio de fé! Fé em encontrar o que procura e achar mais do que vislumbra. Fé em ser surpreendido e ter talento suficiente para estar atento, sempre atento. O amor vem e vai em fração de segundos... Fé em receber e dar no momento certo. Fé em prometer não se perder nos olhos que lhe fazem brilhar a alma e mandar tudo se danar por se perder nos olhos que te fazem a face corar e a alma saltar da pele. Fé em mostrar ao mundo inteiro, sem receio, o seu estado de ebulição. Mas a fé só move montanhas mesmo nas histórias bíblicas. O amor é conjunção complicada e raramente serena de muitos fatores miúdos e grandiosos, ficando na tênue linha que difere fé de esperança.
Assim, o amor dilacera, corta a alma e fere os pensamentos que constroem milhões de fantasias que se descolorem ao escurecer do dia ou ao clarear da noite. O amor, me parece, é um eterno ir e vir de ilusões. Devaneios longínquos, sonhos futuristas demais para serem presente. Que presente é esse que não diverte? Que presente é esse que tanto diz não?
Levante a mão quem quer um sim do amor? Ainda que o amor escorrace, ainda que o amor seja tão incompreensível na sua arte de nos fazer mais fracos, mais tolos, mais bobos, imploramos por ele porque só o amor nos conecta de fato à alma e a história desse tempo-espaço. O amor é a única maneira de existirmos, e, talvez seja por isso que persistimos tanto em vivenciá-lo, ainda que seja doído, sofrido e incerto... Ainda que seja sempre momentânea as alegrias que vem nos intervalos da longa espera que angustia.
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