Às vezes me faz bem, outras me faz mal. Às vezes me faz procurar o que perdi, outras me mostra que não há mais como encontrar, a não ser nas memórias de tempos bons que não voltam mais.
E ainda que repita tudo da mesma forma, com as mesmas pessoas, a saudade arrebatará meu coração para comprovar-me que nada do que foi será, que cada instante se constrói de uma maneira e que o mundo tem sua própria forma de diferenciar e nos fazer distinguir cada tempo.
Nada, nada se repete, ainda que exista o ingênuo sonho de reconstruir. Fazer tudo da mesma forma... Não! O corpo é outro, o tempo-espaço se modifica, a alma evolui, os pensamentos têm marcas que nos guiam a seguir em frente para não se perder e tampouco se esquecer.
Só pode ter nostalgia quem escreveu boas histórias, mas não se pode flutuar apenas na nostalgia, sob o risco de não construir nostalgias futuras. Assim, as lembranças são como tinta fresca, mas o cheiro passa porque de fato acabou ou porque nosso olfato se acostumou com o cheiro a ponto de já não o perceber mais. É nessas horas que faz bem se afastar para poder sentir de novo o cheiro da brincadeira, da escola, da meninice... É cheiro de tempo bom, não há porque renegá-lo desde que não se renegue o que se coloca bem à nossa frente.
A aventura não termina nunca e é bom ter a nostalgia como companheira. Ela é motivação quando se acha a certeza no coração que nos mostra que o que foi bom, foi bom e o que virá poderá ser tão bom quanto. Não podemos parar, há que se ter esperança em reencontrar no novo o que nos fez feliz ontem, mas não somente pelo ontem, mas também pela esperança de deparar novas formas de alcançar a felicidade.
O velho passado pode e deve estar presente quando convidado. Há que recordá-lo com sabor e sabedoria. Há que derramá-lo em boas rodas de conversas que consomem breves tempos de saudade, vivendo intensamente essa saudade que comprova que houve festa, alegria, intensidade, houve e há amor pelo simples resgate de memórias que não nos fogem por serem pilares bem fincados em nossas almas. Pilares que não podem ser implodidos, ainda que por vezes esquecidos.
Ah! Nostalgia! Nostalgia que enche os olhos de boas lágrimas por momentos idos. São os momentos que se destacam na nossa linha do tempo e não é à toa. Os momentos é que criam as canções. E as lembranças dos momentos, que podem estar distantes ou frescos, é que criam os versos, as artes, os monumentos que não são necessariamente coisas físicas e materiais. São pequenos momentos do que foi o agora um dia que nos permitem avançar para tê-los de novo de maneiras diferentes ou parecidas, ainda que nunca iguais. São os mesmos pequenos momentos que até nos fazem parar para recobrar o que fomos e o que queremos... Redescobrindo assim nossas loucuras e razões, nossos passos nessa dança tão própria que é a vida, cujo repertório se faz naquilo que foi, no que é e no que será, com todos confabulando entre si e se completando sempre e para sempre, além do sem fim, para além do passado, do presente, do futuro e da própria nostalgia, seja ela já feita, sendo ou por ainda ser sem saber se será.
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