Me chama para o seu boa-noite na beira da praia. Entre as estrelas e a imensidão do mar me chama porque lembra, em suas reflexões, que eu existo e que distante, também penso em você. Me chama para ver o sol raiar e ao nascer do dia diz coisas que espero a tanto tempo ouvir. Me diz tudo, mas me esconde o todo, para que os seus mistérios me intriguem nessa louca jornada de quem quer decifrar o que não precisa descobrir.
Me faz verdade e também medo. Me faz de gato e sapato e me chama para curtir a mesma lua, o mesmo azul, a mesma vastidão... Me dá o que não pedi e pede o que não estou tão disposto a dar, mas que por ser você, acabo até pensando no caso.
Me chama para ser feliz. Rir do que não me agrada e rir ainda mais do que me satisfaz. Seu chamado me satisfaz mais do que todas as suposições de satisfação que já tive.
Me chama para iluminar a sua escuridão e me dá a luz que preciso para enxergar a canção. Me chama para provocar a criatividade que minha imaginação supunha ter e me chama para imaginar mais e mais do que poderia prever. E ao me dar os seus lábios, me dá a paz que presumo não existir e me prova que ela pode ser até maior do que a ONU descreveu nos seus manifestos mais utópicos. Me chama para a certeza das incertezas que existem e que virão. Me chama para juramentos sem fundamento, mas que me comprometo a cumprir, nem sei por que ou talvez porque acredito nos seus olhos, creio em suas promessas por mais que elas se aproximem do improvável.
E aí, então, me chama para quebrar contratos, porque não somos bem assim desses que assinam com tinta de caneta obrigações. Nos obrigamos por prazer e liberdade em ser o que se é e o que se quer ser. Somos fantasias sem disfarce, rostos sem máscaras que se revelam na realidade previsível das novelas.
Me chama para te chamar e me irrito por saber que te chamo porque me chama para dançar até os pés e o sono não aguentarem. Abro a porta e sei que daqui a pouco terei que abrir a mesma porta para me despedir de você e te chamar de novo. Na verdade queria me despir e te despir mais uma vez, mas você tem que ir para que eu te chame ou para que você me chame para visitar as ruas vazias da madrugada da cidade.
Espero o teu chamado e me chama com duas horas de atraso para te encontrar onde quase ninguém se encontra. Me chama de novo e finjo que não querer ir até que, sem poder mais sustentar o meu charme insosso, vou. Atendo ao seu chamado que me chama para aventuras que estou disposto a ter só se forem com você. E ao te ver, já não posso ter a ideia de te ver partir. Fico. Não resisto. Me chama e te chamo e aí acende a chama inexplicável da paixão que sem fogo arde mais que os vulcões chilenos. Nos chamamos de tudo o que o vocabulário permite e já inventou e inventamos novas palavras na intenção de ultrapassar o Aurélio e ultrapassamos se levarmos em conta essas palavras sem sentido algum e tão impronunciáveis ainda que em voz de locutor.
Misturamos canções do Capital com vinho tinto e rechaço o seu vivendo e aprendendo, condeno o seu leve desespero e concluo que somos um tanto passageiros na opção de que tudo que vai vira fogo. Retruca com canções do Tim ainda que eu garanta que eu vou estar, mas me prova que essa tal felicidade está estampada no azul da cor do mar que revela o que os nossos olhos veem, chegando a dar medo do futuro ao ponto de que atinjo o saber em que você é mais do que sei, mais que pensei e sendo assim não posso negar aos seus chamados porque também te chamo e cada chamado vira na verdade convocação.
Me chama para juntos vivermos o mundo e me acolhe no seu universo em que toda a galáxia conspira ao nosso favor. Eu vou porque quero ir, porque preciso ir, porque te chamo e me chama antes mesmo do mundo ser mundo e de eu, você, nós e o verbo chamar existir.
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