Palavreando - Eu momentos - 3 a 5 de dezembro 2011

Por Wanderson Nogueira
sexta-feira, 02 de dezembro de 2011
por Jornal A Voz da Serra

Sou intenso enquanto há intensidade, sou melancólico enquanto a melancolia me vista. Sou pretensão de tudo quando tenho que ser tudo e sou nada quando nada tenho que ser. Vivo cada momento, porque a vida é um grande conjunto de muitos momentos e nenhum momento pode ter a presunção de ser toda a vida.

Tenho assim muitas vidas dentro de mim. Sou fera que ruge na selva, mas também posso ser o mosquito que suga o sangue do leão. Sou nuvem que se dissipa, mas também posso ser a tempestade que varre as ruas. Sou doutor em confundir, mas sou perito em se equilibrar na corda bamba dos dias. Sou assim psiquiatra das minhas próprias loucuras... Não queiram me definir como uma só coisa e não se atrevam a me perguntar se aprovo as definições alheias, pois em verdade, nem eu sei me definir.

Você sabe?

Somos assim, todos nós, muito parecidos. Não iguais, porque ninguém é igual a ninguém. Nossas atitudes são diferentes, ainda que nossas finalidades sejam as mesmas: encontrar a felicidade! Semelhantes num mundo cheio de contrários em que os opostos gritam dentro da gente, nos confundem, nos guiam e por fim nos fazem encontrar aquilo que faz sentido, aquilo que dá sentido, aquilo que nos faz sentir vivos ou mais propensos a morte! Somos assim, esse infinito de possibilidades numa linha finita, a tal linha do tempo que faz crescer, mas que também envelhece e nos leva...

Porém, no tempo, não são os dias que nos dirão que fomos felizes, nem as horas que nos concederão a dignidade, tampouco qualquer das métricas que buscam marcar quanto dura um mês ou uma semana, mas sim os momentos... Eles nos dirão o quanto fomos bons ou maus nisso e naquilo em sua eterna construção em busca de tentar uma definição mais apropriada... Mais concreta talvez. Mas vacila em querer apenas nos resumir. Não somos resumo. Somo um conjunto, um grande conjunto de momentos.

E sou intenso na intensidade porque me deixo carregar por aquilo que me apaixono. Daqui a instantes não sei se estarei nesse estado, mas enquanto estiver travarei uma disputa para ser mais intenso que a própria intensidade. E se sou dramático, não esperam outra coisa que senão meu choro quando o mundo me apunhalar após eu tê-lo carregado em minhas costas. Não esperem meus gritos se a melancolia me atravessar o caminho, porque sou o que o caminho quer de mim. Mas não se enganem, esses que gostam do que é intenso, gostam também de apunhalar o destino e contrariar o que parece lógico ou inevitável. E é tão divino contrariar o que parecer estar escrito! Mas é bom ter força e fé para saber o lugar em que está pisando se realmente quer voar!

E o eu momentos são como esses filmes de ação que nos surpreendem. É também a foto que paralisa aquela dança, aquele sorriso, aquele soco no ar, aquele olhar... É a vida acontecendo sem mapas e o tempo passando, às vezes, escorregando entre as mãos e outras sendo bem manipulado. É o barro se transformando em vaso. É a semente evoluindo para flor. É o encontro se transformando em amor. Sou eu transmutando de matéria para energia, de corpo para alma, de atitudes para história. E, esse não é um dom exclusivo meu. Todos nós somos assim... Se observar bem. Não precisa ser tão atento ao ponto de ao só ficar atento, não viver a vida que passa. Os momentos acontecem a todo instante, passam ligeiros como flashes de câmeras fotográficas que jamais poderão captar tudo. Mas todos os momentos podem ser captados por nós, desde que o vivamos com tudo que cada momento nos oferece.

Por fim, escrevo o que gostaria de viver e vivo o que gostaria de ter escrito. É paradoxal para no fim das contas ser o tudo que me revela e o nada que me esconde.

Entre os extremos viajamos de momento em momento para ser um eu comum no meio de todos nós.

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