A mesa está mais vazia. Há um lugar vago que ainda que ocupado, não permite a substituição. Falta um filho, um irmão, o pai ou a mãe, aquele tio de longe ou mesmo aquele primo quase sempre esquecido. Falta algo se falta alguém.
Chove lá fora, mas estamos protegidos, dentro de casa, no aconchego dos abraços dos nossos que são nossos por destino, seja lá o que for... Só não dá para afirmar que é apenas por fatalidade.
A felicidade é tão simples que a gente não percebe quando se é feliz. E é tão bom ficar, estar, voltar pra casa ainda que em doces lembranças de tardes cheias de compromisso e manhãs de preguiça. Não há nada como nossa casa, nossos pratos e brigas, histórias, tradições e heranças genéticas e de costume, nossa vida em eterna construção e desconstrução.
Crescemos juntos, tanto quanto envelhecemos a cada pôr do sol, mas é lindo poder assistir dia a dia mais um pôr do sol até que venha o último que será o do para sempre, daquele para sempre que fugimos e acabamos, no fim de tudo, por correr ao encontro dele. O para sempre, sempre um desejo um tanto longe de se realizar.
O para sempre está mais para um lugar na mesa dentro de uma fotografia. Na prateleira da nostalgia onde rostos moram, celebrar a saudade boa em se sentir parte de algo com alguns.
E o agora vai se desenhando com os traços do passado, fugindo para o futuro até que se tem medo do futuro ao compreender que os dias estão passando rápidos demais, que ainda que maiores, somos menos, que ainda que crescidos, seremos sempre filhos, irmãos, primos, sobrinhos, pais...
Cada vez mais distantes ao fazer novos laços, mas aquela ligação não se desfaz, pois ninguém além daqueles nos conhecem tão bem. Eles servem para nos mostrar quem realmente somos e quem realmente queremos ser. Eles têm conhecimento de toda nossa história, são personagens de nossa biografia, capítulos de nossa exclusiva literatura. Carregamos todos em nossa jornada, alguns mais leves, outros mais pesados, mas todos parte de nós, como somos parte deles.
Lembraremos de todos, como por todos seremos lembrados. É em família que fazemos parte do mundo. E não dispensaremos as preocupações, como não queremos ficar afastados das conquistas. Celebraremos juntos a vida e as vidas que nos cercam! Cantaremos na mesma mesa as músicas de natal e ano novo, desejaremos feliz dia das mães, dos pais e das crianças. Estaremos juntos para experimentar todas as emoções que nos afastam da solidão. Mas sabemos, conscientemente, que perderemos. Essa batalha tem vencedor certo. A roda natural da vida se consolida e contra ela, nada podemos, a não ser entrar nela e aproveitar cada instante, desde os mais simplórios aos de grandes festas, desde as salas de silêncio aos jardins de conversas. Outros chegarão, mas jamais substituirão aqueles que se vão.
A mesa fica cada vez mais vazia, mas é um vazio próprio daquilo que já foi completo e quando assim talvez nem tenha se percebido o quanto se foi feliz, o quanto se é feliz em família.
A gente nunca percebe bem enquanto se é feliz e só sente falta da felicidade quando não está sendo visitado por ela. A felicidade é tão simples que se percebêssemos a abraçaríamos como somos abraçados quando estamos chegando, voltando para casa.
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