A pior coisa que existe é ter que escrever um texto obrigado. E aí o texto não vem e você começa a se autoenganar ao jogar para o leitor qualquer palavra sobre qualquer tema. Cheio de letras, os parágrafos são vazios. Cheio de frases, as conexões não fazem sentido. É só mais um todo sem nada. Um completo... vazio.
Quando a tela em branco está à minha frente, nem sempre as teclas estão para os meus dedos. O branco clama por ser preenchido, mas nem sempre tenho o que dizer. Dizer por dizer... Não vale a pena, porque não vale a pena ser lido.
Nem sempre consigo colher os pensamentos que me rodeiam. Às vezes, as palavras se dispersam e se tornam indecifráveis, confusas quando se juntam. Nem sempre a clareza da ordem das palavras faz sentido, tem sentimento. É preciso refletir, domar o engano que há por detrás das letras. Uma avaliação errada é permitida, mas pode ser danosa. Até as palavras mais bonitas não são tão ingênuas assim. Aliás, a ingenuidade tem fugido do homem, não sei se é porque o mundo a espanta ou se é porque o próprio homem a afugenta.
Se as palavras não se encaixam, se o texto não sai, no fundo no fundo, é porque ele clama para não ser publicado. Um texto não pode ser só conhecimento, não pode ser só digno de classificação nobre na literatura. Um texto tem que ter verdade, brilho nos olhos, tem que provocar dor no estômago ou sensação desconhecida na alma. Tem que mexer com quem lê, ao ponto de convidar para viagens fabulosas que podem ou não dar em algum lugar. O lugar pouco interessa se você curte a paisagem que passeia pela viagem. Um texto, a união de palavras tem que levar o leitor a essa viagem e o melhor: cada um faz a sua, ainda que o texto seja igual. Porque nenhuma leitura é exatamente igual à outra. Há várias formas de se ler o mundo, como há muitas maneiras de se interpretar o que está escrito. Um texto tem que entorpecer o coração, mas nem sempre é fácil achá-los. Depende do escritor, tanto quanto do leitor. Às vezes gosto do que escrevo e sou um ótimo escritor. Outras, eu odeio o que tenho e aí não sei se sou um péssimo escritor ou se sou um ótimo leitor e vice-versa.
Mas o trabalho e diversão de um autor são assim como o de um vidente. As palavras vêm de não se sabe onde e se revelam através dele, pelo menos é assim para mim. Não tenho qualquer talento, a não ser a chance de ser a abertura do canal pelo qual as palavras encontram seu caminho. Dali em diante, eu não sei se chega a muitos ou poucos e tampouco sei se elas fazem diferença ou não para quem as recebe. O fato é que não quero ser um charlatão das palavras. E não quero ser um charlatão das palavras só por temor (as palavras punem), mas por acreditar que as palavras têm certo poder que nos mudam e nos moldam para sermos melhores ou piores. As palavras definem caminhos e quando estão escritas, nem o vento pode apagá-las.
Internamente, todos nós temos a nossa própria batalha entre o bem e o mal. O mundo está repleto de tentações e as tentações nos invadem e nos fazem definir o caminho que escolhemos. Somos juízes de nós mesmos, ainda que não sejam devidos, eternos julgamentos com absolvições e penas. Viver a vida assim pode nos afastar da felicidade e de nossas próprias essências. Ainda que as palavras não possam possuir ninguém, elas podem aprisionar alguns e libertar outros.
Às vezes, as palavras me prendem e eu as liberto. Outras, elas me libertam e eu tento prendê-las. Gosto de todo esse encontro e desencontro, mas gostaria de ter ininterruptamente a inspiração para nem sempre libertar textos ruins, e, acima da obrigação, ter o obrigado por ser o escritor das palavras que me procuram.
Deixe o seu comentário