O papel à minha frente. O branco que me engole junto com o desejo de despejar nele palavras que, juntas, às vezes confusas, dêem em alguma coisa, levem a algum lugar! Não sei se o objetivo é possível de ser atingido. Cada um no seu canto ou no seu quadrado, como fala mais uma daquelas músicas inúteis, mas que fazem moda.
Estamos cada vez mais conectados, formando comunidades cada vez maiores. Estamos cada vez mais sozinhos. Soldados de batalhões solitários numa guerra sem vilões e sem heróis. É a guerra do século! É a batalha de nós contra nós mesmos! Sem retorno, sem porto seguro, sem bases aliadas.
A trilha sonora é o coração que, sufocado, bate fraco ao mesmo tempo que apressado... sinais do estresse que advém do combate cotidiano de ter que se enfrentar no espelho.
O papel continua à minha frente, louco ou temeroso, por receber garranchos em linhas tortas. É minha linha inimiga a ser vencida, meu medo e anseio. Meu amigo a me abraçar, meu desabafo e liberdade. O simples rabisco de um menininho de mãos dadas com uma menininha, em frente a uma casa grande e um sol com sorriso aberto e olhos felizes já não me servem como quando eu era criança.
Cresci. Aprendi a ler e escrever as pessoas! Descobri o mundo em todas as suas nuances. Um mundo que me engole como o branco à minha frente. E eu luto para que ele se torne meu refém, mas cada vez mais sou seu prisioneiro. É meu meio de dizer o que meus olhos vêem, mesmo que minha alma cale. O mundo se abre pra mim como janelas em dias de verão. Um mundo que me condena quando o branco preenchido não agrada. E muitas vezes não gosto do que escrevo. Mas será que sou eu mesmo que escrevo? Possuído, talvez! Quem sabe? Limitação?
É como quando o céu cai sobre mim. Minha alma evapora, e, por um instante deixo de ser eu. Talvez, eu me transforme no nada. Uma nuvem traiçoeira me engole e logo depois me vomita. A busca por uma chance é, às vezes, uma saga, outras, um desperdício. Aí, ao abrir os olhos e voltar a mim, me pergunto se o céu, realmente, cai sobre mim ou se sou eu que vôo ao encontro dele.
Para onde vamos? Para onde estamos indo? Eu não sei! O que somos? Ah! Para isso tenho minha tese: somos este momento! Essa limitação agora. Porque o amanhã, não posso prever! Já fui feliz desenhando um menininho de mãos dadas com uma menininha, em frente a uma casa grande e um sol com sorriso aberto e olhos felizes. Hoje, perdi a inocência de criança, porque o mundo se transformou para mim como não espero que se transforme para meus filhos. Mas nesse hoje, sou grato por enfrentar o branco, para ao preenchê-lo ter a paz que só o desabafo ou a observação cotidiana me dão!
Minha natureza é otimista e minha sina é poética, mesmo que dramática. Estaremos juntos, sem muros entre nós. Ajudando-nos uns aos outros para que todos unidos não nos sintamos sós.
O papel por si só não me basta, o branco preenchido necessita ser luz para abrir caminhos, formar batalhões que, encorajados, encarem a guerra que fazemos contra nós mesmos.
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