As pessoas passam por nossas vidas e decidimos se damos ou pegamos carona ou não. A desatenção pode ser fatal e a escolha positiva ou negativa pode mudar tudo, o trajeto, o afeto, o destino da viagem e a presunção do que poderia se alcançar.
Por mais imaginativos que sejamos, a decisão de embarcar ou não desenha um mundo tal o qual nem nós podemos ilustrar. Seríamos mais felizes se aceitássemos a carona, seríamos mais tristes se recusassem a carona que demos. A vida é feita de detalhas, pequenos detalhes que por muitas das vezes não damos importância. Mas tal qual a vida é passageira, também somos, mesmo quando não pegamos ou damos carona. Podemos ser passageiros da aventura ou navegantes da recusa a ela. Ambos levarão a um destino. E a dúvida poderá ser acompanhante por muito tempo ou pelo tempo todo.
Aquela acenou e não foi vista. Aquele assoviou e foi ouvido. Parei para esse, pedi carona ao outro. Fui despejado e cortês. Fui insistente e perdi. Perdi tempo com a viagem cansativa daquela, perdi o rumo com o caminho desgastante daquele, ganhei o mundo por seguir sozinho, mas fui mais feliz por dar carona a quem despretensiosamente me conquistou. Fui pleno sem planos na estrada. Fui tolo com planos de suposições de ser pleno. Passagens de quem soube o que é dar carona, mas foi pouco habilidoso, talvez, em recebê-las. E a vida é assim, toda carona muda tudo, você dando carona ou não, você aceitando ou recusando... Cada decisão te leva a um lugar e o resto é só imaginação.
Pede carona ao cometa na viagem pelas galáxias próximas e distantes. Há cometas velozes, há estrelas paralíticas, há tristezas gritantes, há alegrias perturbantes. Pede carona ao mundo, mas não queria dar carona a todos, pois alguns prosseguem, outros não. Às vezes é possível esperar, mas na maioria é preciso seguir.
Ganha-se algumas caronas, outras perde-se, e no entremeio de ganhos e perdas é que se molda o caminho para que no conjunto de tudo o caminho enfim te defina. Você será definido pelo caminho que trilha, mas será de fato as caronas que carrega e aquelas que não trouxe. Somos, assim, definidos pelas caronas que damos e recebemos, tanto quanto todas as que recusamos. E, você vai errar aqui, errará ali, perderá aqui e na recusa poderá perder o mundo, mas no aceite pode também perder o mundo, mas também poderá ganhar o chão.
Nem todos herdarão a terra, mas inevitavelmente, todos terão história.
Que história construir? Que memória não trazer? Não há certeza em nenhuma carona, nem sempre valerá o perigo, mas sem o risco nada poderá se ter. Pede carona ao amigo, dá carona à menina, mas talvez seja pertinente nesse tempo evitar a carona daquela aparente inverdade, porém amanhã quem sabe?
Prosseguir sozinho, quem pode? Carona à música. Carona aquele pequeno poema do Mário Quintana. Carona ao gosto pelo ilegal. Carona ao certo do que é legal. Carona ao medo. Carona à euforia. Pede carona à vida! Enquanto dirige deixa o sorriso estampar o rosto ou deixa a lágrima rolar à vontade. Soca o volante do destino ou apenas abaixa a cabeça e levanta de novo porque é preciso seguir. Precisa parar? Pare, mas não demore muito tempo. Há outras caronas a dar, há muitas outras caronas a pedir. Seja intenso, mas se for necessário seja o outro extremo, nada é mais ridículo do que o meio-termo. As caronas pelo meio são as piores, tanto para quem pega, como para quem carrega.
Há pessoas cujas caronas marcarão para sempre a sua jornada, outras nem tanto. Há passatempos pertinentes e outros absolutamente desnecessários. Haverá caronas produtivas e outras apenas divertidas. Algumas virão fora de tempo, mas outras no momento exato. Cada carona, dada e mesmo as recusadas, serão importantes no fim das contas e o acumulado delas é que dirá se você foi mais feliz ou mais infeliz, ainda que muitas fiquem apenas nas suposições. Mas entre o abstrato do que poderia ser com o concreto do que foi e é, talvez seja opção mais inteligente apenas avaliar que caronas vêm e vão e que você embarca ou não em cada uma delas, sabendo que cada simples decisão muda tudo, determina o rumo de quem se quis ser e de quem de fato se tornou.
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