Sinto tanto a sua falta, mais do que poderia supor. Em qualquer lugar que vou, lembro de histórias que ali foram escritas, em que fomos personagens que nem sabiam que estavam sendo felizes. Para cada canto que olho, recordo dos poemas que se formaram em meus pensamentos, tirando das coisas mais simples a inspiração para preencher nossos versos.
As estrelas e a lua na varanda, a cama de lençol pequeno, as ruas escuras nos escondendo, o chão macio rendido às nossas carícias, o teatro de gargalhadas e lágrimas, a luta do bem contra o mal e você escolhendo os Luthors, o sofá de companheirismo paciente com a música... Tantas músicas que serviram de trilha para caminhadas feita ao sol a pino e também na chuva.
Mas nos desviamos, apagamos as velas na sala, destruímos as pontes que nos levavam a diversão, recolhemos os sonhos, os objetos nos armários e optamos por prosseguir sem que estivéssemos seguindo juntos. Permitimos que as ausências e os excessos fossem mais importantes que tudo o que nos completava, quando eram as ausências e os excessos que evitavam que fôssemos vazios.
A indiferença nunca nos abateu, e nos amamos com intensidade e nos odiamos sem precedentes, ainda que tenhamos amado sem saber o que era amor e nos odiado sem definir bem o que era ódio. Mas sem perceber, o vácuo que nos afastava se tornou imensidão. A distância que nos separava se tornou inatingível, incorrigível, quase infinita, quase... Em tantos quases, ficou apenas a ausência, a solidão e um vazio que não conhecíamos e que se esquivou, por algum tempo, em nos visitar. E me visita na minha tolice e te visita na sua opção de ser desejada, amada e odiada como não pude te amar e te odiar. Parece incoerente? Quem disse que a vida tem alguma lógica?
Te puno como me condeno. Te perdoo como não posso me perdoar. Mas vou em frente na minha segurança que disfarça a total ausência de garantias. E o tempo me pune, sem demonstrar que pode em algum momento me conceder absolvição. Talvez eu não queira a súplica, talvez eu não tema o destino ainda que trema perante ele.
Já tremi ao fitar seus olhos, já desconfiei que jamais a teria em meus braços, já me atrevi a trocar tudo por seu beijo... Já desejei não te ver, já orei por afastamento momentâneo, já tive vontade de lhe sufocar nas conversas de travesseiros e dispensar as longas explicações querendo que se conformasse com o silêncio... E o silêncio dói demais, mais que as lágrimas que imploro por não ver. Nunca foi minha intenção lhe tirar o coração, quando apenas queria roubá-lo para oportunamente devolver-lhe o que é seu de direito.
Agora seu coração me falta como lhe faltou a minha alma. Rasgo as cartas que me enviou. Escondo as fotos em que estamos juntos. Limpo as gavetas que possuem seu cheiro, mas não me peça para expurgar as memórias dos momentos comuns e intensos que tivemos. Essa ausência eu não me permito. Essa ausência eu não posso suportar. Porque por um bom tempo você foi minha maior confidente, guardiã de segredos e planos que não contaria a mais ninguém. Se lhe peço amizade e me nega, não posso lhe devorar, nem lhe matar, tampouco lhe culpar, apenas tenho que me contentar com essa ausência que conheceu bem enquanto fui seu homem.
Pena que a história termine assim... Lamentável que o último lamento seja o do vazio que nunca fomos, da indiferença que nunca nos visitou, pois nos odiamos com ardor e nos amamos com veemência. Fomos intensos e não há intensidade alguma na ausência. A ausência é pior do que a inexistência, maior do que o vazio e mais torturante que a falta de respostas. A ausência é esse branco que se estende na folha após o ponto final.
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