Às vezes me ponho a observar as árvores. Escolho uma e fico ali, horas e horas, desvendando-a, minuciosamente. Sua raiz fincada firmemente na terra, espalhando-se no seu espaço. Parece marcar território ao mesmo tempo em que apenas tem o que é seu. Seu tronco sobe sonhando arranhar o céu, mas equilibra-se em suas curvas mirando a paisagem que a acolhe a recolhe na composição da cena. Seus galhos apontam o caminho e crescem para os lados caminhando para as entradas das estradas do ar com seus atalhos que sustentam a sombra. As folhas surgem e disputam a atenção dos seus espectadores, dispensando obviamente a admiração dos predadores. Algumas verde-escuras, outras verde-claro, há as amareladas e as sangradas pela ferrugem do tempo. Há aquelas feridas pela audácia das formigas que, na plenitude de uma árvore, acreditam na existência do paraíso.
Não se podem esquecer as folhas secas que desprendidas da segurança oferecida voam, bailam pelo ar no mais lindo espetáculo de balé do mundo, ainda que menos assistido que “O Quebra-Nozes”. Fato é que o espetáculo não se encerra ao rodopio pelo ar, pois aquela folha seca pousa para alimentar a própria árvore ou outras árvores e assim renasce, se mantém na história, preservando-a, estendendo-a...
Há árvores que dão flores, se carregam de beleza e se vestem como a bela do baile. Há árvores que dão frutos, grandes, pequeninos e em uma infinidade de cores. Enfeitam, alimentam, são reproduzidas em tela.
Concentro-me no tronco e observo sua pele marcada pelo tempo, tatuada pelos dias. Penso na história daquela árvore... Tudo o que ela já viu mesmo sem poder caminhar pelas trilhas da vida, mesmo ali parada naquela mesma paisagem. O quanto ela já alimentou, desde os pássaros aos sonhos do homem. E pelas suas aventuras e desventuras, o quanto já viajou para além da visão de seus mais garbosos galhos. Provavelmente, nem ela saiba o quão enigmático é o seu destino.
Comparo as árvores às pessoas. Algumas são mais finas, outras mais altas. Algumas chamam mais a atenção pela beleza, ou- tras por serem mais frutíferas. Algumas ocupam mais território, outras sustentam mais peso. Há outras que estão tão próximas que se confundem, se comple- tam, levando-nos a questionar se é apenas uma ou se são duas, afinal. E poderia ficar aqui traçando um milhão de comparações para dizer que todas têm o seu espaço e são importantes para o equilíbrio da vida e do mundo.
E assim, após observar cada árvore, algumas árvores, e, ainda que pudesse observar todas as árvores do mundo, concluo que, mesmo as árvores da mesma espécie, nenhum é exatamente igual à outra.
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