Minha vontade era dizer te amo, mas não podia me revelar por inteiro. Não naquele instante! Não daquela maneira tão exposta, tão fácil de desvendar... E é assim toda vez que estou decidido a te esquecer e te odiar e te banir - me entrego, não resisto. Rechaço minhas promessas e me deixo ser feliz ainda que numa felicidade passageira e até enganadora.
E adoro ser e estar enganado quando minha face é presenteada com sorrisos e meus olhos se inundam de lágrimas gargalhadas pela emoção de te sentir, mesmo sem te tocar. E sou tocado por seus versos que me ludibriam e me elevam a mundos desconhecidos cujos mistérios são descobertos pelo passeio que sua voz faz por minhas vértebras e vísceras, mas que de fato atingem sem golpear a minha alma.
E odeio esta enganação quando sou personagem preterido na sua história de brincar com a vida. Esse desequilíbrio de dar sem receber não me parece amor. O amor pede cuidados que não recebo. Mas como dizem que em todas as relações há sempre um que ama mais do que o outro. Quem dera não fosse eu... É aí que meus passos tropeçam e minha alma cambaleia. Ainda que a dor prove que estou vivo, não suporto viver com ela.
Mas minha fé é maior que os meus medos e receios e incendiado por dentro ainda corro para te ver, ainda mudo o rumo das horas para te encontrar. Esnobo as teorias de destino e o que dizem os astros. Luto ainda que tudo indique que será em vão. Luto não para manter esse amor, porque esse já não sai mais de mim. Luto para fazê-lo mais feliz, mais real, menos unilateral.
Minha vontade era dizer te amo, aberta e declaradamente. Mas me guardei não para um momento certo dentro de uma lógica. Apenas recuei na esperança de dizer te amo sem o afã da hora que me desperta para tais coisas aparentemente absurdas perante suas ausências e promessas não cumpridas.
Não queria acreditar em você, tampouco nas suas conversas de vento. Mas a fragrância de seus gestos me persegue e impregna minha roupa até roubar meu paladar me fazendo suspirar o respirar do seu sorriso. Sobreviver de você. Vício bom, mas como todo vício, perigoso e no fim danoso. Fujo, mas a esperança me faz encarar o medo de te reencontrar e aí me vejo de novo entre a vontade de dizer te amo e a prudência de omitir aquilo que sinto e meus olhos condenam.
Te amo por tudo, até pelo tudo que lhe falta. Não vislumbro perfeição, mas sonho com esforço mútuo. Talvez um pouco mais de dedicação. Talvez um pouco mais de vinda até mim, sem que eu tenha que implorar por isso. Sim, sonho com surpresas ainda que a cada dia tenha menos expectativas de ser surpreendido. Não peço muito, mas o amor não pode viver de nada.
Raios batendo no chão. Exaustão, combustão, explosão... Caos em busca de ordem ao ponto que todo princípio de calmaria busca aquilo que nos torna mais vivos. Assim, são perversos todos os amores, ainda que necessários. Não por serem maus, mas por nunca ser exatamente aquilo que queremos. Nos plantam a incerteza e nos levam para um mundo onde tudo é possível. Por isso, talvez clamemos tanto por segurança, mas nesse terreno isso é algo distante, sempre desconhecido, ainda que se tenha experiência. Talvez por isso o chamem de mundo da lua. Mas não existe um jeito certo de amar, não há essa de amar direito...
Minha vontade era dizer te amo, despejar em você minhas músicas e poemas. Mas me resguardo, detenho os segredos que me tornam mais misterioso e mais evasivo. Sofro pela autoperversão, mas é assim que tem que ser. Um dia ainda te direi rasgadamente, te amo, mesmo sabendo que ao ser perverso, o amor muitas das vezes nos faz amar sozinho.
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