Já quis entender de estrelas. Hoje apenas as vejo. Na plenitude de mim apenas as vejo. Pois não foi permitido ao homem o entender, porque entendendo se esquece de viver, entendendo acaba não vivendo.
Mas o mais engraçado dessa graça que a vida faz com e da gente é que as coisas mais belas são aquelas que sentimos sem precisar ver, comprovar, relatar por extenso, documentar. Simplesmente não vemos e ainda sim sentimos. Como a imensidão que se esconde entre as estrelas. Melhor do que mergulhar numa calçada de estrelas é se afogar no infinito incomensurável da imensidão que se enfeita de estrelas. Parece exagero?
Nos enfeitamos de sonhos que desconsertam a realidade; de amores que colecionamos aos montes em cada passo; de fotos que paralisam momentos inesquecíveis e impossíveis de se repetir ainda que se ensaie; de dias que concedem o divino direito de ser feliz. São esses enfeites que nos diferenciam e nos definem. E indefinidos nos realizamos sem ser necessariamente realidade.
Escolhemos músicas que compõem esses acontecimentos ou as músicas nos escolhem ou encontram o que fazemos da vida para que compreendamos que para tudo, cada situação, tem um sentido e uma canção. Por isso existem tantas músicas e ainda sim, mesmo com todas as músicas do mundo, não são suficientes para preencher uma vida inteira...
Também há intervalos de silêncio e é no silêncio de conversas com a gente mesmo que nos aproximamos das grandes descobertas.
Descobrimos que crescer junto é melhor do que padecer sozinho; que apesar do mar ser lindo, são os passos na areia que chamam a atenção; que escolhas tem que ser feitas para se cumprir o destino; que essas escolhas são essenciais para se costurar a história que escrevemos; que dar as mãos requer entrega e vice-versa; que encontramos o que queremos de formas inesperadas e nem sempre na ordem desejada; que não dá para planejar tudo, certas coisas simplesmente fogem ao nosso controle; que o tempo apesar de ter uma cronologia não é uma ciência exata e que, por fim, as descobertas são mutáveis, se atropelam e nos atropelam se não aceitamos que descobertas se sobrepõem na nossa eterna jornada de se descobrir e redescobrir.
E iremos em frente ainda que não haja mais frente perante nossa visão limitada que não enxerga através de montanhas que nos circundam. Ainda que existam obstáculos, o horizonte ainda sim estará lá e o sol nascerá sempre. As estrelas estarão lá penduradas no céu... Quem disse que elas clamam por serem decifradas? A vida continuará debruçada esperando que você rebole para ela, mas nem sempre ela emitirá convites formais para que você a chame para dançar. Se enfeite de tudo e todos que se entregam a você por privilégio. Dispense os enfeites de piedade, não são enfeites, são penduricalhos que agradam quando você se olha no espelho, mas pesam e após uns passos causam desconforto próximo de náuseas advindas de prazeres fúteis. Ouça cada música que puder ouvir ainda que os primeiros versos não agradem. Nenhuma música pode ser julgada antes de se ouvir o seu refrão. Regozije-se com a paz do silêncio e converse porque as maiores lições que aprendemos vem de conversas descompromissadas. Descubra, porque é se descobrindo que a gente descobre o mundo. E é na sucessão de acontecimentos que criamos, aceitamos e desviamos é que desvendamos a vida que a gente quer, que a gente quis e que a gente foi. Sendo escolhido, escolhendo e se deixando escolher. Porque se você não acontece, a vida acontece por você.
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