Palavreando - A última vez que chorei

Por Wanderson Nogueira - wandersonnogueira@gmail.com
sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013
por Jornal A Voz da Serra

O luto é necessário para o renascimento. É preciso chorar para solenizar a despedida. Se faz necessário para a alma sofrer sem piedade consigo mesmo para tatuar na história a dor que é desistir daquilo que você mais quis. Calar, sem sorriso cerrado nos lábios. Gritar nas lágrimas que molham o rosto perdido de quem perdeu. Eu perdi—admito pra mim mesmo. Eu desisto com a coragem que nunca me veio e que com suas palavras agora me visita e me veste de tal capacidade que recusei por reiteradas vezes. Desistir de você e da história que escrevi em crônicas. Oportunidades não faltaram, mas lutei contra o destino. Ainda que a consequência viesse se achegar, não me arrependo, porque tudo que fiz e orei serviu para sustentar que o milagre de lhe ter não surgiu pra mim. Não há mais o que esperar. Não há mais nada a se fazer a não ser fechar a porta, virar as costas e partir... Guardar seus argumentos, expulsar os meus e seguir em frente! Dói. Endurece meu coração. Enruga a minha alma. Sei agora o quanto dói quando alguém diz a uma criança para não sonhar e não ter esperança. Foi o que me disse, e, eu ouvi com a paciência dos sábios, com a ardência dos apaixonados. Morri para o amor e preciso renascer para todas as outras coisas.
Quero acordar diferente de quando fui dormir. Quero que a noite mate o que sinto e que quando despertar não mais exista o que me entorpece os dias.
Tantas coisas que não fizemos em tantas outras que quisemos. Eu sempre soube o que queria e você insistindo no que não queria que eu fui só sonho e você apenas razão. E eu tive que te dar razão,  quando apenas queria surrar a sua cara ou te dar um longo abraço seguido de um não menos duradouro beijo.
Sei que me perseguirá tudo o que não foi, assim como tudo o que achei que só por mim poderia ter vindo! Sei que me acompanharão todas as canções e todos os momentos. Tardes lindas, terremoto, beija-flor. Convite a anjo verde—nunca mais! A mesma ponte que une é mesmo a que separa. A ponte nos separou. O céu caiu sobre nossas cabeças e só eu me feri, ainda que diga que não soube dizer, não soube querer... E foi tão meu em meus sonhos ao ponto que fui todo seu em realidade. Tolice essa minha intensidade piegas. Burrice esse meu jeito de entregar para o mundo que entre a multidão, consigo eliminar todos à volta e só vivo você! Tolice a sua desperdiçar minhas promessas e fidelidade. Burrice a sua de me proteger do mundo, quando na verdade eu sou mesmo um super-herói ainda que apenas na fantasia do meu fantástico universo particular de nós dois. Mas nós dois nunca existiu além da fantasia de ser feliz. Nós dois só existiu no ônus do peso de se carregar nas costas um amor impossível. Nós dois jamais foi contemplado com o bônus de se aventurar no labirinto dos nossos corpos, começando pelo beijo e terminando na descoberta de nossas entranhas. Mas o máximo que tivemos, o suficiente para me arrancar suspiros e provocar tempestades foi o afago das nossas mãos com o colar da sola de nossos sapatos. Fatal a espera que termina na inexistência de fatos românticos, ainda que não tenha faltado romance, ainda que preso no campo platônico das ilusões que ficam, ainda que todo o resto parta.
Te amei como um louco e apreciei minha loucura nos dias mais felizes dos meus meses. Por muitas horas só pensei em você quando o mundo me chamava para cuidar dele. Mas dispensei o mundo todo sem qualquer receio. E o pior é que sei que continuaria dispensando se por um instante você apenas me dissesse para continuar lutando!
Vou dormir chorando. Temo te sonhar... Seria bom que meus sonhos esquecessem você. Não sei como acordarei. Mas espero amanhecer sorrindo mais do que forte. Espero amanhecer para não anoitecer com a mesma intenção de ir dormir: chorando e temendo o que sonho.

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