Palavreando - A primeira vez a gente nunca esquece. Ou não

Por Bernardo Dugin - bernardodugin@yahoo.com.br
sexta-feira, 24 de agosto de 2012
por Jornal A Voz da Serra

Fui para Ilhabela a trabalho. Viajei como produtor de TV para cobrir a Mitsubishi Sailing Cup, que reúne alguns dos melhores velejadores do mundo, como Torben e Lars Grael.

(Que trabalho bom, né?, você deve estar se perguntando. E de fato é.)

Viajar cansa, mas enriquece. Não o bolso. E sim a alma, a cultura.

(Bernardo e suas frases clichês. Dane-se. Sou brega.)

Pela noite, depois da festa à imprensa e aos velejadores no Sea Club, fui conhecer um pouquinho mais da Ilha. Lembrei de Búzios, mas Ilhabela é diferente. Não sei explicar. Parece que tudo é mais simples (no melhor sentido da palavra).

Na minha equipe, eu, o cinegrafista e a Elisa Veeck, que, além de atriz e apresentadora, é uma excelente guia turística. Ela fez questão de mostrar os pequenos cantinhos desse lugar que ela é apaixonada. Estávamos com fome e ela prometeu nos levar para comer um hambúrguer vegetariano. (Não resisti e comi um de carne mesmo.)

— Olha esse Cristo. Diferente, né? Parece feito de balas de arma de fogo — eu disse avistando o monumento que fica em frente a uma igreja.

— Tá vendo, Bernardo, por que sou tão apaixonada pela Ilha? Tá explicado? — Elisa disse sorrindo.

Estacionamos o carro ali perto e seguimos a pé numa rua transversal para conhecer o “centrinho”.

Só me restou concordar com a cabeça. De fato estava num lugar especial.

— Aqui tem essa lojinha que amo de paixão. Eles fazem uns artesanatos com papel machê. Não é demais?

— E essa sorveteria Rocha é maravilhosa. Não tem como eu te explicar o sabor, mas é um dos melhores que já provei. Se amanhã fizer sol a gente vem aqui.

Continuamos andando e chegamos à rua principal.

— Esse aqui é o píer. Super charmoso — continuou.

— Peraí. Eu já estive em Ilhabela! — retruquei.

Não acreditei no que eu mesmo disse. Veio um flashback na minha cabeça. Sabia que já tinha visto aquele Cristo em algum lugar. Lembrei que em 2008, o Cruzeiro de formatura que fizemos no Ensino Médio parou em Ilhabela.

— Meu Deus! — fiquei sem ação.

Lembro também que cheguei em casa e disse aos meus pais:

— Não sei o que vocês tanto falam em Ilhabela. Não vi nada naquele lugar.

Na ocasião, descemos do transatlântico, demos uma volta chocha no Centro, olhamos algumas vitrines, paramos para beber cerveja num quiosque da praia, tiramos fotos e só. Acho que era condizente com nossa idade: 18 anos. E apaguei da minha memória.

— É isso! Tenho uma foto em Ilhabela no meu Orkut — constatei.

Por coincidência — ou não — pensando em deletar o velho e bom Orkut, na véspera da viagem para São Paulo revi meu álbum da falida rede social e ri da legenda de uma foto: “Ilhabela lalalala”. O locutor do navio fez essa piadinha quando chegamos onde hoje, acho um destino imperdível. Mas em momento algum associei a piada ao lugar que no dia seguinte eu, supostamente, iria visitar pela primeira vez.

De fato, o tempo passa e o que muda somos nós. Mudei minhas prioridades, a maneira de ver as coisas. Mudei de cidade, mudei meu estilo de vida.

E se dizem que a primeira vez a gente nunca esquece, hoje posso afirmar que a segunda é bem melhor.

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