Hoje eu acordei mais cedo. Nem me preocupei se o 1° compromisso do dia seria apenas 2 ou 3 horas mais tarde. Levantei-me despreocupado, sem ansiedade alguma para o instante que teria uma nova oportunidade de dormir. Abri as portas e janelas para que os raios do sol pudessem entrar em minha vida. De braços abertos, recebi a manhã e chorei ao ver o ipê coberto com um amarelo mais lindo que qualquer combinação computadorizada. Chorei porque havia tempo que não olhava para o ipê. Deixei de presenciar o milagre de suas folhas caírem, ficarem secas, alimentarem o chão para que semanas depois, desse aos meus olhos aquela exuberante imagem.
Nunca mais deixarei de observar o ipê.
Talvez, seja essa a hora certa. O tal momento que te separa do antes e do depois. E não é qualquer antes e depois... se a vida fosse traçada apenas e simplesmente em uma linha do tempo, essa seria a tal divisão em que aparece nascer e nascer de novo.
Daqui a 24 horas você será feliz! Não. Você será feliz agora! Esta é a hora certa! Mas a hora certa só vem se você puder observar. Você é capaz!
A hora certa não vem de trem, nem a jato, tampouco a cavalo ou numa Ferrari. Vem na pétala que se desprende da flor, na nuvem que nos agracia com a chuva, no sorriso despretensioso, no sopro que sai da boca, na melodia que vem da música... no amarelo do ipê que o desperta para as coisas do mundo que vão se traduzindo na condução de seus passos, na batida do seu coração, naquilo que você diz e daquilo que você faz. E só você sabe fazer do seu jeito e ninguém mais!
A hora certa não pode ser marcada como você agenda o salão ou o engraxate. Não requer planejamento e não adianta despertador. Você simplesmente desperta. Por mais que acumule conselhos, você desperta absolutamente sozinho. Pois a viagem é única e exclusivamente sua. Você decide que mala levar, quem vai e quem não vai com você. Não responsabilize os outros por suas escolhas. Ninguém te obriga a nada. Você só não tem controle sobre uma situação: quando a viagem termina, em que estação será parado. Por isso, voe sem precisar correr. Conheça o mundo e conhecer o mundo nada tem a ver com o número de bilhetes aéreos que vai colecionar ou em quantos continentes vai estar. Conhecer o mundo tem mais a ver com: em quantos olhares você vai passear, quantas mãos vai dar, em quantos abraços vai pousar, quantas artes vai apreciar, quantas músicas vai ouvir, com quantas crianças vai brincar, quantas almas sua máquina fotográfica vai registrar... Você não precisa ir da Austrália ao Alaska pra isso, se puder vá, mas não sem antes esgotar todas as horas aqui, com os seus, aqueles que te suportam no cotidiano e que te conhecem a tanto tempo que até se enjoam de te ver todos os dias. Mas eles escolhem te ver todos os dias, justamente porque apesar de não declararem aos berros, sabem que você é essencial.
A hora certa é sua, assim como a certeza de que este momento é o certo pra você sair por aí cantando a vida, soltando os braços, fingindo ser um maestro do vento ou um dançarino de can-can. Ser o que é sem medo, receio, neura... Deixar-se observar o amor que está na terra, no desconhecido da moto que passa todos os dias na sua rua chamando a atenção, na menina daquele restaurante que você almoça todos os dias, dessa paixão que solta, pula no seu colo, mas que por falta de observação... você deixa cair. Mas a paixão é insistente e a todo o momento volta, se joga no seu colo e você? Não, talvez não seja a hora certa ou talvez seja...
Às vezes, a gente quer ir tão longe como uma sonda da NASA. O céu fascina, mas é o chão que nos alimenta e é do chão que nos erguemos. Como o ipê. A hora certa! Ela vem a cada milésimo de segundo, em várias formas. Quando descobrir isso você nunca mais vai se esquecer de que qualquer hora pode ser a hora certa!
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