É sempre pior a dor que a gente sente agora. A dor de ontem é suportável, a dor de amanhã é apenas uma suposição! E não dá para ficar simulando a dor que o outro sente. Cada um tem o seu próprio modo de senti-la, ainda que seu percussor seja o mesmo. E não há dor menor ou maior; é dor e só sabe sua intensidade quem a sente.
Não há nada mais humano do que a percepção da dor. Dói ver o outro partir, dói o afastamento, dói a saudade, dói não ter o que se quer, mas dói mais ainda não poder dar o que aqueles que amamos necessitam. Dói ser vulnerável, dói esmorecer, dói perder, dói não ter esperança, dói não ter motivação para seguir e, às vezes, dói seguir, mas nada cura mais do que prosseguir. Ainda que acompanhado pela dor é preciso seguir em frente. Avançar ao desconhecido e também encarar o que se conhece. Enfrentar ainda que se tema os nossos próprios defeitos e fraquezas, os nossos desafios, as nossas missões que são nossas e de mais ninguém. Há certas tarefas que não se pode passar a outro. Há dores que são exclusivamente nossas, aliás, a dor é sempre muito singular, tem apenas um dono e só o seu dono pode descrevê-la, afastá-la e tirar proveito dela, aprendendo com ela, sendo maior do que ela. Mas dói ter o medo que paralisa, nos estagna. Dói ser a inércia.
A dor não existe para que sejamos fracos ou para provar que somos fracos mesmos, mas sim para nos fortalecer. Aquilo que não nos mata, nos faz crescer. E como dói crescer. Abandonar a meninice e ser adulto é doído, mas nem por isso desistimos de sonhar em ser bons homens, construir um mundo mais nosso, ser feliz. A dor é a comprovação que temos nossas limitações, não somos invencíveis, mas a mesma dor nos prova que podemos enfrentar qualquer desafio, que temos um propósito que não é sofrer, nem apenas sobreviver, mas viver ao máximo com tudo o que a vida tem a oferecer.
Só quem vive experimenta a dor. Só quem quer viver sabe da constante iminência da dor. Só vivendo é que se escapa da dor para reencontrá-la de novo. Ah! Ela fica à espreita na esquina, não para fazer uma nova presa, mas porque nós também atraímos a dor, para ser livre, para ser maior, para ser melhor... Para ser a gente mesmo na nossa mais fiel forma.
Quem ama sabe o que é a dor e nem por isso deixa de amar ou se pudesse escolheria não amar. Ama sem amarras porque não há delícia maior do que a advinda do amor, mesmo que seu gosto possa doer... Amar significa perda, aflição, temor, mas também todos os contrários a estes, os contrários à dor. Quem ama tem esperança, tem o dom de abdicar, tem uma maneira própria de suportar toda e qualquer dor. Quem ama sobrevive, ainda que na perpetuação de sua biografia.
Dói o silêncio e o barulho do desespero. E não há escalas para a dor, nem régua que a meça. Só quem a tem e no momento que a tem pode descrevê-la e mensurá-la. E há que se respeitar isso! Há que se respeitar o que cada um faz da dor que tem, cada um tem o direito de experimentar a dor à sua maneira, cada qual faz o que quiser da delícia e do pecado de ser o que é.
A dor nos molda, nos faz enxergar além. A dor não existe para que desistamos, mas para que viremos à próxima rua mais fortes, mais firmes, mais a gente mesmo. Por fim, as respostas não estão na dor, mas o que você faz dela.
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