Modos
Nunca digo sempre, nem sempre digo nunca. E o meu nunca dura uma semana e o meu sempre não passa de um mês. E sou aquele que engana o imprevisível ao ponto que sou tão imprevisível quanto ele. Meu destino não é de ninguém ainda que eu me permita dividi-lo com alguns. E esses alguns é que fazem toda a diferença na minha brincadeira com a vida. É dessa maneira que me divirto e diverso é o meu modo de ser feliz. E há muitos modos de ser feliz, mas não conheço nenhum que possa ser feito solitariamente, ainda que felicidade tenha a ver com o que se tem dentro e não exatamente do que se recolhe fora.
O meu nunca dura um mês e meu sempre não passa de uma semana e quase sempre o nunca foge de mim e nunca o sempre me acompanha. As horas estão sentadas na gangorra e eu queria ficar ali escorregando no tobogã para um dia não ter que partir. Mas o destino é certo ainda que os meios pelos quais ele chega a tal sejam emendados por caminhos imprevisíveis. Imprevisível! É o que sou e isso não é talento nenhum, porque todos têm esse talento ainda que guardado na gaveta ou reprimido na alma. Na soma dos imprevistos e imprevisíveis é que se costura a minha história com outras histórias...
E nunca sou sempre, ainda que sempre diga nunca. É um modo, uma forma de ver a vida e viver a vida. Sempre colorindo papéis, nunca vestindo papéis. E de um modo ou de outro sou o papel em branco que ganha textos mínimos e extensos em contextos variados. Visto o modo sem acompanhar a moda. Dispenso a moda por ter um modo. Um modo de ser e viver, admitindo que repetidamente confrontado pelo sempre e nunca sou forçado a perguntas e desafios até finalmente considerar que o meu nunca não dura muito e meu sempre não é uma promessa garantida de ser cumprida.
A vida muda tanto e os dias convidam para tantas coisas que é difícil se comprometer com o nunca ou com o sempre. Isso não quer dizer que o cerne de meus ideais e crenças mudarão, mas de certo evoluirão ou retrocederão. A vida muda constantemente. A vida se transforma ininterruptamente. Mas eu quero ser o final, estar no final, quero insistir em ver o fim da história, seja ela boa ou ruim.
Há modos de levar a história e o tempo. Não há um modo certo, prefeito, inquestionável a não ser o modo que você leva e faz. Mas lembre-se: seja o modo escolhido sempre haverá dois lados, nunca uma só versão, porque a vida é mais o modo que se vê do que o modo que dizem ser. E o nunca e o sempre estão aí mais uma vez...
Sempre esse nunca, sempre esse sempre confundindo tudo. Sempre e nunca não são modos, porque promessas não são modos, ideais sim! Ideais são modos. Viver é um modo. A promessa não vale nada, o que vale é o cumprimento livre a essas promessas. Por isso, viver uma vida de promessas, não é viver. É flertar com a vida. É interromper o fluxo perfeito e natural do tempo e da história. Então, o sempre acaba quando termina, quando se interrompe, quando se cortam os laços, quando não há mais sintonia e suporte para prosseguir ou repetir o que se repetiu anteriormente até esse ontem não ter mais força para ser hoje e amanhã. O nunca desaba quando a vontade do vento insiste e vence como o mar que invade a terra e a estrela que encontra o sol. Quando o desejo e a necessidade são mais fortes e vorazes que a prudência e o conformismo e o calor derrete o iceberg para o encontro do que está predestinado a se encontrar.
Nunca digo sempre, nem sempre digo nunca. O meu nunca dura uma semana e o meu sempre não passa de um mês. O meu nunca dura um mês e meu sempre não passa de uma semana. E nunca sou sempre, ainda que sempre diga nunca. É um modo de ser, ver e sentir. Uma prática, uma forma nem sempre repetida de modos de viver a vida.
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