Achados e perdidos
Já tive amigos que pensei que para sempre seriam meus amigos. Já tive sonhos que sonhei que um dia iria experimentá-los. Já tive amores que acreditei que seriam amores da minha vida e nem precisei terminar minha vida para saber que não eram.
Por muito ou pouco esforço vi as festas esvaziarem. Por intenso ou escasso sentimentalismo vi os abraços de dor diminuírem. Por presença de mais ou de menos vi me obrigado a separar aquilo que vale daqueles que não valem à pena. Pelo caminho da vida, que não é um caminho constantemente reto, despercebi nas curvas que se escondem as mãos quase nunca triunfantes de adeuses solitários. De alguns sinto falta, de outros apenas saudade de bons momentos. Mas o que me causa mais tristeza é o não cumprimento da promessa do para sempre. E o pior de tudo é que não sei de quem é a culpa, se é que existem culpados. Só me condeno por seguir pelos dias, menos jovem do que ontem, mas com a mesma esperança ao pensar que terei amigos nos quais deposito a fé de que serão meus amigos para sempre.
Abandonei pelo caminho muitos dos meus sonhos e alguns de seus farelos permitem que seguindo seus rastros possa se chegar a quem sou hoje. Estes sonhos deixados fazem parte de minha natural evolução, mas não me atreveria a dizer que todos foram abandonados simplesmente porque cresci. Alguns deixaram de ser sonhos porque esforçadamente se tornaram realidade. Muitos outros apenas deixei pelo caminho. Ou porque não me serviam mais ou porque eram grandiosos demais para minha pequeneza. No entanto, uma vez sonhado, o sonho se impregna na alma como tatuagem na pele e nunca mais se pode retirá-lo da profundeza que se instala. Pode até esquecê-lo, mas se olhar bem há de encontrá-lo. E temo encontrar os sonhos que sonhei, pois eles podem comprovar meu insucesso ou o quanto me distanciei do menino que matei.
Quando se ama, você acredita que esse amor é pra vida inteira. Enquanto se ama será esse amor sua bússola nos mapas e mares nunca antes navegados. Será intenso e será tudo o que você sabe sobre amor, pelo menos por aquele instante. Que pode não ser um instante prolongado. Que pode não ser para toda a vida. Não sei se há uma vida para cada amor e se essa vida se encerra para uma outra vida quando esse amor termina. Não sei se a vida renasce a cada nova doce ilusão dando a essa vida muitas outras vidas. Uma vida para cada amor numa única vida. O que sei é que os intervalos entre um amor e outro doem, machucam, ferem, corroem a esperança em encontrar a tal felicidade. Na mesma dimensão, me impressiona como sou tolo em não duvidar que o próximo, sim, o próximo e não o anterior será o amor da minha vida. Mas também me deleito com o doce sabor das lembranças de amores cultivados até o último suspiro de si mesmos.
Prosseguindo assim vou... Pelo caminho vão ficando achados e perdidos. Pelo caminho vou levando achados e perdidos. Não me cabe saber ou prever o que me espera no fim da estrada. Ficaria feliz se encontrasse lá, todos os amigos do para sempre; sem nenhum temor, todos os sonhos de todos os tempos; e ao menos um amor dos amores da minha vida. Eu sei, eu sei que já tive amigos que pensei que para sempre seriam meus amigos. Já tive sonhos que sonhei que um dia iria experimentá-los. Já tive amores que acreditei que seriam amores da minha vida e nem precisei terminar minha vida para saber que não eram, mas o que posso fazer? Se não fosse assim... A vida não teria sentido.
Deixe o seu comentário