Palavreando - 6 de fevereiro.

Por Wanderson Nogueira
sexta-feira, 05 de fevereiro de 2010
por Jornal A Voz da Serra

Combustão

Estamos ficando velhos, os anos estão passando, o mundo está girando cada vez mais veloz ao ponto que os dias parecem cada vez menores e também mais confusos. É a combustão do tempo e da gente mesmo.

Não dá mais tempo para se perguntar para onde se está indo, não dá mais para parar para refletir. Estamos mais espertos e também mais tolos. Mais ferozes, mais vorazes, mas também mais famintos. E tão cheios de fome temos promessas de amor, mas promessas não alimentam ainda que motivem. Mas motivação cessa e esperança acaba quando não vem após as horas esperadas. Esperamos sem poder esperar, nos damos sem querer nos dar. Não somos os sonhos que sonhamos, não sonhamos mais. Somos combustível que se gasta sem saber por que se queima.

Estamos ficando velhos, a vida está passando e paira no ar a sensação de que estamos esquecendo algo. São amigos, sentimentos de outrora? O que ficou pra trás já não importa mais. Voltemos! Não, não dá pra voltar, o tempo está passando... E para que se corre tanto se nem se sabe para onde se está indo?

Os mundos estão desabando nesse grande mundo e ouço gritos, chamados de quem quer viver, não porque a vida está passando, mas porque se quer passar com a vida por esse tempo que é único e não volta mais. Não dá para se reabastecer de tempo...

Eu quero esse abraço agora. Eu quero esse sorriso de volta! Eu quero ser feliz porque não posso esperar pela felicidade. Não sou a espera, sou o acontecimento. Sou a combustão de mim mesmo nessa junção com o tempo. Sou a fórmula que faz o mundo girar e se transformar. Se ele vai rápido, eu reduzo. Se ele vai lento, acelero. E nem veloz ou devagar, eu quero o equilíbrio que me estabiliza na corda bamba que é a vida. E se cair eu voo e se não der para voar eu pulo bem alto na cama elástica que me impulsiona e por vezes também me derruba. Mas quer saber, eu me divirto! Sempre! E assumo meu papel nesse grande teatro. Não sou vilão, nem mocinho, eu sou é artista da vida que corre perigo ao cuspir fogo, que é mágico ao esconder as cartas, que é humano ao tentar dominar as feras, que é verdadeiro ao se revelar palhaço. Quem sabe lhe arranco gargalhadas, quem sabe lhe planto suspiros, quem sabe o que sou quando sou a surpresa que não se atrasa e o mistério que não se confirma. E danço tango no carnaval e canto baião na Bahia. Sou água salgada no riacho e truta no oceano. Sobrevivo e me misturo. Desvencilho-me da maldade e curto assistir ao espetáculo, mas gosto mesmo é de ser a cena do palco, o fato da foto, pois sou a ação da vida, sou a vida vivendo, a combustão. E te aceno. E te convido. Sou o novo da novidade, sou o novo do que já se sabe. Temor que teme de verdade, mas amor que incendeia, inebria e agita a razão com suposições que se confirmam mesmo no exagero diário que faz parte da minha essência de intenso e dramático. E quanto mais velho fico, mais novo estou. O tempo é meu parceiro e trago com ele todos que confio. Não sou esperto, nem tolo. Tenho fome, mas descarto a voracidade que pode me tornar feroz. Sou manso feito bicho que está em paz, sou bicho feito homem que tem sua terra. E tenho um mundo quando nesse mundo estão todos aqueles com que quero compartilhar o tempo para ser combustão de quem navega nos olhos dos que ama. Sou imensidão no tempo, sou combustível que não acaba, sou voz que não cala, sou vazio que não se preenche, sou completo, sou gente!

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