Fotos
O que ninguém viu o que todos viveram. Elas não mentem. Aquilo que se foi está lá para eternamente ser... Opacas, amareladas, multicoloridas, não importa as cores de suas misturas de tintas quando a alma está recheada de tempo e pelo tempo contemplada. Relatos em retratos, retratos em relatos, memórias para serem contadas, lembranças para serem lembradas.
E ao abrir o baú de fotos sentir primeiramente, aparentemente que algo lhe foi roubado, para depois então confirmar que certamente algo realmente lhe foi roubado: os dias. Trata-se do roubo do tempo sempre vencedor. O tempo sempre vence, nos vence, nos mata! O tempo leva tudo, até as paisagens, mas ficam as fotos!
E as fotos estão ali esparramadas na mesa a meia-luz do abajur iluminadas pelas doces intermitências que unem e separam, que de um modo ou de outro fazem ligação desses com aqueles dias. Quem dera tudo pudesse ser fotografado: cada passo, cada ensaio de alegria para a felicidade, cada experiência de agonia para a tristeza.
E olhamos as fotos e nos vem uma sensação de choro e de riso pelas coisas idas e passadas que se tornam tão presentes. Assustados, percebemos enfim que a vida está indo, passando, trazendo e levando desde rugas a pessoas. Mas o mais belo que há por detrás disso não é a certeza de que ganharemos e perderemos pessoas e momentos. Mas que estivemos ali rodeados por pessoas, umas que amamos mais, outras menos e algumas que nem chegamos a tanto, mas que estiveram ao nosso lado, firmes no propósito de tentar conviver com a gente. Mas também que tivemos momentos que poderiam ter sido mais aproveitados, mas que foram nossos momentos daquele jeito que não poderia ser de outro. Não vivemos para morrer e as fotos são poesias de versos, às vezes adversos, que nos contam com riqueza de detalhes essa façanha que é a vida. Uma trajetória que implica drama, comédia, romance, ficção e realidade. As fotos fazem quilômetros de estrofes nas expressões e atos neutralizados pelos cliques dos milésimos de segundos do tempo paralisado. Aquele tempo único de um instante que jamais voltará, mas que está ali testemunhado em uma foto!
Há um belo exagero na simplicidade de uma expressão captada. Seja qual for, há um belo exagero na simplicidade mortal de qualquer expressão ainda que da estática paisagem que aparentemente não sorri, nem chora. Mas se observar bem...
E ao relembrar a vida nas fotos, a gente se emociona, porque nascemos para nos emocionar. Não são papéis revelados por químicas, tampouco junção de pixels e mais pixels impressos. É a vida despercebida apresentada em flashes que nos motiva a flashes e mais flashes de dias nem sempre fotografados, mas esparramados em registros fixados na prateleira de nossa história. Não há história vazia, maior ou menor, apenas histórias mais ou menos reconhecidas.
E as pessoas vão passando por nossas fotos, outras vão chegando convidadas ou não a entrar na fotografia, algumas se despedem sem necessariamente terem se despedido. E o mundo vai girando, o vento leva as folhas de lá pra cá, de cá pra lá, o homem transforma as paisagens, o verde dá lugar ao cinza e de repente o cinza ao verde e as cores na fotografia mudam, ainda que não quiséssemos que mudassem como jamais gostaríamos que aquela fosse a última foto daquele rosto. E não dá para transportar aquele momento do ontem para o agora a não ser pelas doces lembranças trazidas por uma fotografia. Uma mísera e fantástica fotografia. A comprovação em papel que houve história em um espetáculo de dor, saudade e nostalgia. Alegria...
Fotos e mais fotos de relatos retratados a contar. Fatos e memórias de lugares e pessoas para jamais se esquecer. A vida num filme estrelada por você. O que ninguém viu o que todos viveram. E o que vai ficar na fotografia? É a vida ligeira que passa e o passo ligeiro que fica.
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