Palavreando - 31 de janeiro

Por Wanderson Nogueira
sexta-feira, 30 de janeiro de 2009
por Jornal A Voz da Serra

À espera

Eu poderia ficar aqui o dia inteiro observando você fazer seus afazeres: acordar, tomar café da manhã, almoçar, tomar café da tarde, jantar... Eu poderia te amar um milhão de vezes e na multidão, de longe, te reconhecer. Eu poderia até tentar esconder que quando te olho embarco num encantamento hipnotizável, mas sei que isso não é possível, quando me pego te olhando o cenário muda e estrelas surgem ao seu redor. Eu poderia ficar aqui a vida inteira apreciando seus gestos, suas manias e toda essa sua beleza. E admitindo que sou louco não nego que estou à sua espera.

E te espero sem poder esperar, mas espero até você chegar.

Eu deixaria a impaciência de lado junto com todos os meus compromissos chatos: acordar cedo, trabalhar, almoçar fora, jogar conversa fora, pagar contas... Eu deixaria as incertezas para os indecisos e a corrida diária para os corredores. Eu deixaria de esconder aquilo que sinto e provocaria a todos que me rodeiam para saberem exatamente o que sinto e penso acerca de cada um deles. Eu deixaria a vida me levar para onde ela sempre quis, os seus braços, o seu aconchego, o seu pequeno abrigo acolchoado por mimos e coleções. E admitindo que sou sonhador não nego que estou à sua espera.

E te espero sem poder esperar, mas espero até você chegar.

Eu seria menos antiquado e um pouco mais atrapalhado na minha rotina: colocar meias, gravata, aparar a barba, pentear os cabelos, fazer abdominais... Eu seria mais atento aos nomes e rostos que me sufocam nas calçadas e esquinas. Eu seria apurado ao atravessar a rua para roubar os seus sorrisos e esperto para guardá-los na minha memória fraca. Eu seria o palhaço que provoca em você gargalhada e o monstro de filme japonês que lhe demove do medo de ver filmes de terror. Eu seria o misto de coisas que posso ser para confuso me achar no apego de seus beijos e no calor de suas palavras. E admitindo que sou romântico não nego que estou à sua espera.

E te espero sem poder esperar, mas espero até você chegar.

Eu contaria o que me contraria a todos que estão acima e abaixo de mim: velhos, novos, ricos, pobres, poderosos... Eu contaria todas as estrelas do céu e daria a elas, cada uma delas, nomes diferentes. Eu contaria pra você o quanto sufoquei minhas tentações e mesmo escondendo os meus mistérios contaria todos os meus segredos, medos e anseios. Eu contaria sobre fórmulas matemáticas como poesia e nos versos que você me inspira revelaria ao mundo que minha busca valeu à pena. E admitindo que sou menino não nego que estou à sua espera.

E te espero sem poder esperar, mas espero até você chegar.

Eu amaria o que faço por que tudo que faço tem como objetivo você: aturar gente boa e chata, gastar cuspe e vocabulário, correr de um lado para o outro, esperar nas filas... Eu amaria o luxo das avenidas, mesmo que não esconda minha preferência pela beleza da simplicidade. Eu amaria política e seus jogos sem-fim. Eu amaria o que poderia e deixaria de ser e contando todos os versos que fiz admitiria que te amo mesmo sem te conhecer.

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