Palavreando - 30 de maio

Por Wanderson Nogueira
domingo, 31 de maio de 2009
por Jornal A Voz da Serra

Às vezes

Às vezes só quero ficar rindo. Rindo de nada, rindo por rir, permitindo escapar de dentro de mim toda a gargalhada possível. Outras vezes quero apenas chorar, com ou sem motivo, chorar deixando escapar minhas lágrimas para o rio cotidiano que corre por minhas horas. Algumas vezes quero somente ficar parado ali em silêncio, em profundo silêncio, observando tudo atentamente, admirando o mundo girar e se transformar. Mas outras vezes quero gritar, tagarelar sem parar, falar besteira para comprovar se alguém está realmente ouvindo o que digo. E de às vezes vou tecendo a minha imensa colcha de retalhos em que cada retalho é um estado de espírito, feito à minha vontade ou contra a vontade mesmo. Mas essa é a minha colcha de retalhos, a minha história de às vezes que amanhã era uma vez...

Às vezes só quero ficar aqui no meu canto ouvindo música. Músicas tristes, desconhecidas, músicas para dançar, músicas de estilos que gosto e que não gosto, músicas para lembrar momentos e pessoas. Outras vezes quero apenas cantar. Cantar com essa falta de musicalidade e ritmo, sem completar as letras e trocando os versos, mas cantar, cantar por cantar sem compromisso de receber aplausos ou concorrer em programas de TV. Algumas vezes quero somente estar assim admirando os sons, diversos sons que surgem dos dias, sons das multidões, sons do retiro na natureza, sons dos estádios de futebol ou das conversas alheias nas calçadas das cidades. E de às vezes vou sendo autor do meu destino e também deixo por vezes a vida me levar para qualquer lugar, desde que eu possa terminar minha história e ao contá-la possa iniciar que era uma vez...

Às vezes quero seguir exemplos. Imitar trejeitos e ideais. Trazer pra mim modelos de história e de vida. Seguir comportamentos só por seguir ou para talvez encontrar o que esses exemplos encontraram. Algumas vezes quero apenas vestir personagens, reais e irreais, meio super-herói, meio vilão ou um nato coadjuvante. Vestido de garanhão, ricaço ou baterista de banda de rock´n roll. Talvez, artista, acrobata ou só mais um magnata. Mas outras vezes quero apenas ser eu com um estilo próprio que pode ser o somatório de alguns exemplos com muitos personagens. Ser apenas eu do jeito que sou, um pouco esquisito, nem sempre corajoso, mas louco para ser apaixonado e apaixonante. E de às vezes vou sendo um pouco de cada coisa para ser tudo que sempre quis ser, acima de tudo um protagonista na única história que realmente escrevo, o era uma vez da minha vida.

Às vezes só quero brindar, brindar à vida, aos dias que me são concedidos, brindar às pessoas que são colocadas no meu caminho, pessoas que me conhecem e que ainda assim continuam ao meu lado para brindar a isso tudo e a elas mesmas. Algumas vezes só quero me afastar para ficar só comigo mesmo, para me entender, para sentir falta do mundo, para o mundo me esquecer um pouco e ver qual mundo sente falta de mim. Mas outras vezes dou adeus a fases e momentos. Capítulos que se encerram para abrir passagem para outros. Dou alguns adeuses forçados, outros adeuses inevitáveis e poucos por opção própria. E de capítulo em capítulo, de às vezes em às vezes, minha biografia vai sendo escrita como qualquer outra história que começa em era uma vez... Eu não sei o final, às vezes suspeito, algumas vezes admito desconhecer por completo, mas outras deixo simplesmente por conta das asas da deliciosa surpresa que podem me fazer voar, correr, esperar ou embarcar num barquinho de papel para universos misteriosos. O que sei é que às vezes quero ficar mais um pouquinho, algumas vezes viver mais um pouquinho, mas outras vezes simplesmente sonhar que ficar mais um pouquinho é algo possível.

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