Aprendendo a não amar
Já duvidei da existência do amor e já quis realmente acreditar que o amor é apenas uma fábula dos livros. Por fim, concluí que o amor está aqui, mas não sei se é tão necessário... Nos causa dor, nos planta a saudade, nos tira o chão e achata o céu sobre nossas cabeças. Nos faz nos perder, nos faz nos deixar, nos faz chorar, nos causa espanto e pequeneza. Faz com que os problemas do(s) ser(es) escolhido(s) sejam os nossos problemas ao ponto que nos esquecermos de nós mesmos. Isso não pode ser bom, isso é cruel e fatal.
Estou aprendendo a não amar porque fiz o curso do amor. Não quero ser frio, mas também não quero mais emitir calor. Sou flecha sem direção e ainda que o vento me favoreça, não quero mais voar. Fui abraçado pela desmotivação e não enxergo motivos para continuar. Estou cansado, entregue ao marasmo que me engole. Dispenso as expectativas, são todas condenadas à frustração. Perdi a fé no amor, não por não ter tentado, mas por ter insistido.
A noite caiu dentro de mim, se instalou e sossegou lá dentro. No entanto, não trouxe consigo as estrelas, nem a música, tampouco a luz. E a escuridão me fez ver aquilo que não via até não sentir mais o que sentia. Não sentir nos leva à mais melancólica das patologias: a indiferença que por sua vez nos atola na frieza que nos seca as lágrimas e cessa os sorrisos. Morte em vida.
E eu que procurei tanto o amor e amei mais do que poderia, muito mais do que poderia me permitir. Me joguei em abismos, construí segredos, me comprometi, me declarei, me desvencilhei para dar tudo o que podia e o que não podia. Inventei mundos diferentes, me vesti de super-herói e também de palhaço. Fiz escolhas erradas e o meu erro foi amar com certezas. A eternidade é uma ilusão, tanto como o felizes para sempre.
Estou aprendendo a não amar. De novo não, nem mais uma vez. Que tenha sido esta a última, ainda que nossos desejos possam e decerto nos traiam. E como sei disso... Não desejei outra coisa senão o amor. O amor em mim, esse sentimento que nos conecta às outras pessoas. Sou um passageiro esquecido na estação. Não compus, não refiz, não corri, nem esperei. Agora, nem prazer, nem dor. Me deixo na estação vendo as estações mudarem e a vida acontecer. Não é a maneira que queria, não é a forma que aspirei moldar o meu destino. Mas, por hora, me despeço do amor, sem olhar pra trás, não o quero de volta.
Não se trata de um desespero passageiro, nem de palavras mal-escolhidas, mal-acopladas. Não estou ferido, nem curado, apenas estou encarando o que deveria ter aprendido da primeira, não da segunda ou da terceira vez. O egoísmo cega e essa é a verdade gritando, rasgando a garganta para machucar o coração. Perdi os motivos que me levavam ao tempo dos sonhos. Deixei as aspirações que tinha na confiança que nutria. O cansaço venceu na minha luta solitária. Estamos sempre tão sozinhos... E assim, sem o amor, não sou alegre, nem triste, apenas sobrevivo.
Estou aprendendo a não amar. Por mais que isso não tenha lógica, não quero mais junções. Não me troco mais pelo amor. Eu que atravessava a rua para encontrá-lo, atravesso agora para despistá-lo. Confesso o meu cansaço e o meu desapontamento. O príncipe não virou um sapo.
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