Palavreando - 28 de fevereiro

Por Wanderson Nogueira
sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009
por Jornal A Voz da Serra

Incertezas

Não sei qual o meu papel no mundo, tampouco a missão que devo cumprir. Dia a dia, tento descobrir com o auxílio da estranha poesia das horas. Mas ainda assim me assaltam as incertezas. Dúvidas de onde vim, pra onde vou, qual o melhor caminho, o que esse grande e misterioso autor do mundo espera de mim. No mar de incertezas, temo minhas suspeitas, especialmente quando estou sozinho.

Quando se está sozinho consigo mesmo, é possível conhecer-se melhor quem se é. Descobrem-se coisas que talvez não gostaria de desvendar. É nessas horas que temo os pensamentos inquietos e terríveis que acho escondidos em minhas entranhas: as pessoas pouco se importam umas com as outras. Cada uma segue seu caminho solitariamente e só se aproxima se precisa de escadas para roubar estrelas do universo.

Ainda bem que tudo é incerteza brotando numa terra de promessa e esperança e também pessimismo e desesperança. Não há qualquer certeza nesse drástico e desastroso chão em que tudo, absolutamente tudo é possível.

O destino também tem sua sina e talvez não saiba exatamente qual é a sua função nessa tolice toda. O destino também está à procura de um pouco de certeza, mas como, se ele é a incerteza em matéria, em pessoa? Sem a incerteza o destino perderia sua razão de existir.

Pode ser que os astros estejam errados. Pode ser que a interpretação acerca deles seja vaga. Pode ser que os deuses não saibam o mapa dos caminhos que eles mesmos desenharam e agora evocam seres acima deles para se acharem de novo. E assim, tudo parece tão perdido, embolado, desencontrado... Igual. Tudo é tão confuso, que parece igual. De tanto experimentar se perde o paladar.

O inferno pode ser o paraíso ou ambos sequer existam. O bem não existe na inexistência do mal e vice-versa. Qual seria a razão dos opostos se um dos dois faltasse? Nada funciona sem a ligação entre positivo e negativo. Um completa o outro e nenhum fator extra se coloca entre ambos. Nenhum dos dois pode ser substituído ao compasso que o amor e ódio entre eles alimentam o mundo.

Prossigo sem poder parar, incerto sobre o meu papel no mundo, a missão que devo cumprir, as estrelas que devo roubar. O pecado me atenta, me visto de virtude, mas na longa estrada, por vezes, essa roupa pesa, cansa, magoa, afasta... Penso que devo continuar errando sem abusar dos erros. Tenho medo da morte, mas sou aventureiro quanto a minha falta de temor perante os riscos sem importância. Tenho coragem suficiente para muitas tarefas das quais a maioria se esconde, mas às vezes me falta audácia em olhar nos olhos, pequenos olhos daquele rosto de lábios grossos e traços tênues. É isso que ocorre quando a incerteza acomete a quem não gosta de perder nas grandes questões da existência.

Não sei se sou livre, não sei o meu papel nesse mundo, não sei o nome de todas as cores, mas aquela mistura de rosa com laranja e azul que pesquei no céu, com certeza eu dou o nome de incerteza. E incerto, ereto, às vezes torto, passeio pelo mundo repleto de incertezas. Eu sou a incerteza em matéria e pessoa, mas não possuo o dom de dominar os caminhos.

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