Viva o novo
O novo é a novidade, mas é também a soma daquilo que se foi com aquilo que será. Assim, não se pode separar o novo do passado, nem esperar que o novo não seja a expectativa do futuro.
Chegamos mais sabidos ao que é novo que nem sempre é porto seguro. Chegamos mais medrosos ao novo que é menos convidativo a ousadia ainda que motive mudanças e transformações. E muitos esperam pelo novo para serem felizes, quando o novo nos visita a todo instante.
O novo na verdade não é determinado pelo tempo, pelo espaço, pelas circunstâncias. O novo é esse desejo de acordar, é essa gana em viver, é essa determinação em pagar o preço que a vida cobra para ser sempre novo, ter sempre o novo que não é a novidade vã, mas a novidade que cada um pode ser para o novo que quer nascer.
As experiências nos tornam mais capazes, mas também podem nos tornar menos aptos a ousar. E o novo nem sempre é juventude para o velho, só se é jovem uma vez, assim como só se tem esse dia, esse ano, essa hora, uma vez. E o novo se renova, se inova e acontece bem na nossa frente, sempre! E o grande talento reside na capacidade que se tem em ser novo sendo quem se é da forma que se é com o tempo que se tem.
O novo é lindo ainda que não seja tão diferente. Não é radicalismo, nem mudança de água para vinho. É abraçar o novo que é mais reconhecer o que não se via do que focar naquilo que não se tinha. E sempre se tem o mundo nas mãos, o que falta é perceptividade. As coisas passam, como os dias e as pessoas por nossas vivências. Escolhemos aquilo e aqueles que ficam. Optamos pelas ações que teremos naquelas horas concedidas que jamais voltarão: dormimos, dançamos, ouvimos, falamos. Somos tudo e nesse tudo, nada, somos nada e nesse nada, tudo. E é cruel a escolha de não ser feliz!
Então, façamos um pacto pelo novo que é essa hora que surge, essa vontade determinada em ser feliz, essa forma de ver o mundo e perceber que o novo está aqui como sempre esteve, apenas não se via. Esse pacto não sugere que você limpe o guarda-roupa e varra suas memórias e lembranças. Não! Pelo contrário! Reconheça seu patrimônio e se pergunte: por que eu comprei essa camisa rosa e essa calça quadriculada? Por que só guardei esse jantar na memória se poderia repeti-lo? Por que não apaguei essa discussão boba? Por que não pedi desculpas?
Então, nesse novo, use a calça quadriculada e a camisa rosa sem temor de parecer ridículo ou fora de moda. Repita aquele jantar inesquecível com aquela pessoa, lembre daquela conversa e conte todas as novidades. Feche a briga inacabada e peça perdão ou sacramente de vez a respeitosa posição de inimigo, só não seja falso! A verdade é linda como o novo! E mais: solte os braços e dance porque é linda e prazerosa a dança do novo; curta os amigos como nunca antes e reconheça a diferença entre eles e você e some tudo isso para ter um grupo completo; tire da gaveta o rascunho daquela carta e envie ao seu destinatário; ouça uma nova música, veja um novo filme, aprecie um novo quadro, decore um novo poema, mas não se esqueça de ouvir mais uma vez sua música predileta, seu filme favorito, o quadro que o emociona e o poema que define a sua vida; arrume as malas, com poucas coisas, e, faça aquela viagem não planejada pela América Latina; inove no percurso cotidiano que faz no dia a dia e respire o novo caminho, sem esquecer o mapa do antigo, pode ser que você se perca e não há nada mais humano que reconhecer fragilidades e enganos; caia finalmente naquele lago que você sempre quis cair desde que era uma criança; fuja da chuva; corra para a chuva e lave a alma com o doce detergente do céu; jogue o jogo que não sabe jogar e faça rapel ou trilha ou natação; contemple o novo e de novo aquilo que o faz amar e ser apaixonante, seja enfim um curioso por si mesmo, a você mesmo e experimente tudo que os dias podem lhe oferecer. E experimente todos os dias esse novo que vem com o vento, que lhe escapole pelas horas e que se achega aos seus braços, louco para ser embalado e vivido intensamente.
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