Meu melhor amigo
O melhor é aquele que imprescindível chega primeiro e vai embora por último. Que está ali quando todos já se foram e chega quando ninguém ainda veio. Que te conhece mais que os outros e ainda assim o admira mais do que todos. E a recíproca é a mesma, pois há uma conjunção, uma composição perfeita que junta tudo numa só esfera em intensa harmonia. Não que seja perfeito, mas é maior justamente pela humana imperfeição que existe.
E eu já sei que a vida não tem graça sem ele... Ele é meu melhor amigo e por isso é também a minha prioridade.
E assim, o único interesse que há em uma verdadeira amizade é o de estar junto. Junto pra sorrir, se divertir, chorar, sofrer, se comprometer. É acima de tudo compromisso que dispensa contratos, ligação sanguínea ou mesmo cósmica. É assinatura de olhar e abraço de alma. É poder falar de tudo, revelar segredos e fazer pactos sem necessariamente ter que apertar a mão ou fazer promessas. É poder conversar ininterruptamente por cinco ou mais horas sem faltar assunto e ainda deixar pendente muito papo para o tempo seguinte. É sair por aí cantando a vida, se preocupando com a vida e questionando se a vida é boa ou ruim e o que se pode fazer para melhorá-la ou piorá-la.
O meu melhor amigo me faz rir como ninguém mais faz. Me faz querer entender sobre bateria e me faz entender cada vez menos do assunto. Me faz abrir os ouvidos para novas músicas, mesmo que eu acabe sempre preferindo as que ele compõe. Me faz desistir de filmes de terror e, ainda que provoque minha coragem, admito por fim que não consigo dormir à noite após ver espíritos em cena. O meu melhor amigo tem tiradas de Chaplin e frases de Washington Olivetto. Ele é de escorpião, mas digno de virgem: organizado, perfeccionista e metódico. O meu melhor amigo é o bobo da corte, mas o rei na hora de dividir a brincadeira do que é sério. Ele é o justo e o idealista imprescindível que faz toda a diferença num dia comum e por vezes ou muitas vezes nem percebe que é assim. E peço a Deus que eu jamais o magoe, porque eu não suportaria fazê-lo triste. Eu morreria por ele e se pudesse absorveria a tristeza dele quando está triste e chamaria pra mim qualquer dor que viesse a sentir. Mas na minha limitação humana me sinto importante por apenas compartilhar com ele a felicidade que tem e ser ombro para quando precisa lamentar as coisas inglórias da vida.
O meu melhor amigo nem sempre é o mais simpático da festa, mas é sempre o mais importante. E sou tão dependente dele e não guardo qualquer receio nisso, porque é muito bom amar alguém... Melhor ainda amar alguém que inquestionavelmente merece ser amado. E mesmo nos lapsos de memória pelas circunstâncias da situação, todos os momentos ao lado dele são inesquecíveis, mesmo que caiba aos outros me contarem.
Meu melhor amigo é apaixonante. E, apesar de levar minhas melhores fotos, me deixa as melhores lembranças. Meu melhor amigo é assim o melhor, mesmo quando você está rodeado das melhores pessoas. E eu, sinceramente, não sei o que seria de mim sem ele. Talvez eu ficasse realmente torto para um lado, talvez eu desabasse, mas certamente eu não seria quem sou, certamente eu não seria tão feliz e não saberia o que é gargalhadas, lealdade, firmeza, sinceridade e abraços de verdade.
Eu sempre sonhei em ter um melhor amigo e, de repente, acordei com um batendo à porta me chamando para começar os mais belos capítulos da minha biografia. E eu não teria capacidade para construir esse universo sem que ele chegasse, da forma que chegou e do jeito que permanece. E nem preciso chamá-lo pelo nome, posso simplesmente me referir a ele como meu melhor amigo. E nesse jogo de escritor e personagem, percebi que posso ser os dois, escritor e personagem, se ao meu lado tenho esse co-autor e co-protagonista na jornada dos meus dias, na construção da história da minha vida intitulada: meu melhor amigo e eu!
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