Palavreando
No verbo palavrear que inventei, palavreei um mundo de poesias e canções, nem sempre felizes, nem sempre tristes, mas minhas, todas, pretextos de minhas inspirações. E dividi com todos, o que sinto, penso e sonho, sem receio de ter alma descoberta ou coração rasgado. Revelei, sem segredos, aquilo que sou, amo e vivo. Escrevi sobre tudo um pouco à espera de ser lido, mas nunca na falsa expectativa de ser compreendido ainda que entendido. E na centelha que acende a criação divina fiz cartas abertas que escancararam o meu mundo para o mundo inteiro ouvir.
Tentei me expressar em letras nem sempre organizadas compostas por palavras nem sempre conectadas em frases por vezes confusas, mas que juntas foram minhas, e, livremente voaram para ser também de outros. Aliás, muitos outros, até estranhos numa estranha Noruega se apossaram delas e doei sem problemas as minhas frases feitas para que fossem deles... Até porque essas criaturas não são minhas, são produtos de minhas alucinações poéticas inspiradas em personagens reais, sonhados e apenas personagens. Mudei o verbo no meio da chuva, me retirei saindo de cena e voltei porque me veio ela num dia perfeito quando achei que ela não estava aqui até reconhecer que sim, ela estava aqui o tempo todo. Dediquei longos momentos ao amor da minha vida, meu grande amor, mesmo quando deu branco, mesmo no inverno e até em silêncio. Porém me veio sempre o imprevisível previsível e acreditei em anjos até descobrir que os anjos são pessoas, ainda que num próximo papel em filmes ou fotos, mas sempre abençoados pelo ipê, o ipê amarelo. À espera fiz a lista, conheci Monalisa e me encantei com meu anjo Miguel em seu fantástico mundo ao ponto de pensar no filho que eu quero ter. Dias bons e dias ruins fizeram meus momentos em incertezas, ainda que acreditasse na hora certa sob as luzes do Natal, no feliz ano velho de começar e começar de novo. Foi aí que palavreei o adeus definitivo e perdido nas estrelas encontrei meu melhor amigo. E entre achados e perdidos dei meus passos no futuro do presente por um inteiro meio. Às vezes a dependência me fez completo, ainda que sem você, até que cruzasse a esquina para saber, de repente, que palavreando tudo encontrei até a palavra certa que é viver ainda que a vida seja chegar e partir, mas que tem sempre como único objetivo a felicidade.
E vou continuar palavreando o mundo e tudo sobre ele, que está sob ele, dentro dele e além dele. Palavreando as coisas que sei muito, que sei pouco e que nem sei. Levando a vida vivendo, praticando minha humanidade, multiplicando meus sentimentos, devorando meus medos ainda que acorde com eles. Vou ver estrelas no teto do meu quarto ao estar apaixonado e bem simples, do jeito que gosto, vou me apaixonar e desapaixonar até me apaixonar de novo. E ficando velho, mas não menos exagerado, nostálgico ou jovem sonhador, vou sonhar com novos amigos e me eternizar ao lado dos de sempre. E, por fim, convidar a todos que também palavreiem comigo conjugando o verbo palavrear em todas as pessoas, em todos os tempos, sem se cansar ainda que o desânimo chegue, mas se entregando, porque a entrega a alguém, a um ideal, ao que se acredita é o que há de mais lindo em palavrear tudo, seja o que é real ou o que apenas se imagina, seja o que se sonha ou o que nem existe, sejam lugares ou pessoas, sentimentos ou teorias.
Palavrear palavreando. Palavreando palavrear. E há tanto por se palavrear que nunca será suficiente e é isso que faz desse verbo tão inesgotávelmente especial.
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