Palavreando - 19 de setembro

Por Wanderson Nogueira
sexta-feira, 18 de setembro de 2009
por Jornal A Voz da Serra

Sem você

A sala está vazia e os sorrisos que aqui habitavam se esqueceram de sorrir. O que tenho agora são apenas os ecos de um drama maior do que o meu talento para a dramaticidade própria de um solitário entre as multidões. Sem você as piadas perdem a graça, os retratos perdem a cor, as notas fogem das músicas e aquilo que me fazia completo já não se pode substituir por outra coisa.

A vida tem um ritmo e os dias não param. É preciso seguir, superar ainda que a dor faça companhia quase permanente. E tenho dúvidas se o mundo é justo ao ponto que confesso achá-lo cruel.

É natural sentir sua falta. Não encontrar seu rosto na multidão me leva a um vazio imenso ainda que as calçadas estejam abarrotadas, ainda que esbarrem em mim constantemente. E estar ligado a alguém é sofrível ainda que seja a maior experiência que se pode ter. A separação é previsível e mesmo que se possa supor o quanto será dolorido este corte inconveniente no futuro, quando essa união é desfeita você é apresentado ao que verdadeiramente é a dor.

Porém, nada disso pode te impedir de amar e se tornar outra pessoa com outro alguém. Essa é grande maravilha da vida. Ser dependente, ser diferente quando a você se adiciona o com, se tornando alguém melhor e mais feliz.

Quando duas pessoas se juntam, elas se fazem uma promessa inconsciente de que serão testemunhas uma da outra e que se comprometem a fazer com que a história de cada uma não seja em vão. Quando isso acontece essas histórias se tornam completas e garantem a necessária perpetuação que serve de exemplo para que outros também sigam e mantenham acesa a chama do sentido da vida. E não há outro sentido na vida que não o de se unir a outros. Mas as pessoas nos são tiradas de forma muito rápida. Por isso é preciso valorizá-las, passar o maior tempo possível ao lado delas e não desperdiçar nenhuma chance de passar um pouco mais de tempo ao lado delas. O nosso maior defeito é que ainda que tenhamos o conhecimento de presumir, achamos sempre que haverá um dia a mais, um tempo maior para que possamos saborear as companhias. Mas o tempo é surpreendente e os ventos do destino sopram com fúria e carregam para longe da gente todos aqueles que amamos, ao ponto em que um dia também seremos sugados.

A sala então fica vazia, as multidões não lhe servem porque aquele rosto não está perdido entre todos aqueles desconhecidos. As canções, mesmo as mais alegres se tornam mais tristes. Os sorrisos viram ecos de doces lembranças de um tempo que se foi com aquele alguém que não o visita mais. Mas é preciso seguir sempre! É necessário se agarrar a algo, ainda que seja à foto descolorida, ainda que seja aquele vazio instalado pela ausência do que um dia o fez completo. Há um pacto a se cumprir, há uma promessa a se manter: não permitir que a história tenha sido em vão! Assim, é preciso manter acesa a chama que dá sentido à vida, percebendo que saudade só sente quem um dia amou.

É preciso morrer para renascer, é preciso perder para viver, é importante seguir com sorrisos no coração ainda que com lágrimas na alma. Pois só tem o sem você quem um dia soube o que é viver o com você. Compreende, enfim, a diferença que um alguém faz na vida e o quanto a história é mais completa quando temos aquele alguém ao nosso lado, dividindo com a gente um mundo e um espaço num tempo único que não volta mais... Que não volta nunca mais.

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