Ela está aqui
Ela está aqui como sempre esteve, mas eu não tinha olhos para ver e nem alma atenta para sentir. Talvez meus olhos estivessem perdidos naquela pele que me arrancava a alma e por fim me deixava abandonado sem alma. Talvez minha alma estivesse perambulando por aí procurando em ilusões vãs, mundos de areia que derretem na primeira verdade nua. Eu quero a verdade nua sempre, para que na pele, nessa pele, não naquela ou em outra, encontre definitivamente minha alma para não deixá-la escapar por fugacidades que me impedem de conquistar a tal eternidade.
Decidi, por escolha, que quero o concreto da incerteza, os defeitos incuráveis que se tornam invisíveis quando somamos as nossas imperfeições, as bobagens que compartilhamos e o futuro que traçamos no mapa de nossos travesseiros. Decidi caminhar pelas nossas longas conversas e pelas perguntas sem fim, aceitando que nem sempre tenho as respostas, nem sempre tenho provas, mas tenho todo o sentimento que transpõe a imortalidade. Porque sou um homem apaixonado pela vida, entusiasta do amor e absolutamente entregue às escolhas que faço. E hoje, nesse tempo espaço a mim concedido, acho que já sei o que escolhi...
Ela está aqui. Finalmente percebi: ela está aqui! Não nas estrelas, tampouco num fabuloso universo de coisas transcendentais ou num misterioso esconderijo de imaginações infrutíferas. Ela está aqui, como sempre esteve, em frente ao ipê amarelo que me inebria e no criativo cotidiano de minha bela realidade. Ela está aqui e eu escolho estar aqui por ela, porque decidi, ainda que tarde, que ela precisa saber que tenho buquês de poemas inacabados que precisam de destinatário, mas que precisam ser completados pela história que temos por construir numa biografia dupla de versos que não precisam ser sempre rimados ou com métricas perfeitas, mas que precisam ser assinados com nossos nomes: aquele que procurava aquela que sempre esteve aqui. Ela está aqui por mim e agora eu também estou aqui por ela.
E amar é acima de tudo decidir que você quer amar. Olhar aquela pessoa, companheira e confidente, segurar-lhe as mãos e, mesmo cheio de incertezas, decidir que está certo em jamais querer desviar daquele olhar para nunca mais se perder pelos caminhos que o destino faz. Acredite ou não em destino, o tempo nos ensina e felizardo é aquele que aprende no tempo do tempo. A gente pode passar a vida se escondendo atrás de óculos escuros ou armaduras instransponíveis. A gente pode passar os dias tentando encontrar aquilo que não precisa ser encontrado. Na verdade, o amor vive batendo à nossa porta, sem flores e cheio de promessas fáceis e nenhum planejamento, mas a gente desvia, desvencilha, vacila, por medo ou por ignorância mesmo. Mas aí a gente acaba por perder a essência das coisas até perder a essência de si mesmo. Por isso, digo: o amor não precisa ser encontrado, ele vem ao seu encontro! Onde está o seu talento nisso tudo? Reconhecê-lo. Reconhecer o amor é como encontrá-lo, mas mais do que encontrá-lo é ao mesmo tempo encontrá-lo permitindo-se ser fisgado, escolhido. É estar ali para ser melhor. É fazer de tudo para que dê certo. Aceitar manias, devorar defeitos, cantar pelas ruas e ter nela a melhor amiga, a mais íntima das poesias, a cúmplice e companheira que te fala pelo olhar e te ama no passeio das horas.
Decidi, por escolha, que quero compartilhar aquilo que tenho de bom e ruim com aquilo que ela tem de bom e ruim. Costurar minhas manias às dela e ver no que é que dá. Ser feliz até a felicidade acabar. Deixar o peito aberto sem temor de ser arrebatado. Dar de ombros para as neuras e maluquices que decerto virão, mas abraçar as loucuras que por certo nos farão renascer a cada novo dia. Decidi, por escolha, enxergá-la na multidão e amá-la porque ela está aqui e eu estou aqui pra ela.
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