Palavreando - 14 de março

Por Wanderson Nogueira
sexta-feira, 13 de março de 2009
por Jornal A Voz da Serra

Anjo Miguel

Eu fico olhando pra ele o tempo inteiro e não consigo desviar os olhos de seu doce sono, que é um sonho que velo com amor. Venerando-o, sinto-me deusificado por passar o tempo, todo o tempo do mundo ali, observando-o, admirando-o, esperando talvez uma careta diferente, um sorriso... E a roda do tempo pode rodar ligeira e furiosa, que nada mais importa. Eu ficaria ao lado dele, boquiaberto, vendo-o crescer e desenvolver-se. E as lágrimas me vêm diante da paz que traz. Uma paz muito diferente de todas que supus existir. É uma paz leve que me leva até a suspensa imensidão azul. E é um anjo, um anjinho de olhos azuis, tão pequenino, um milagre que nos conduz.

Ao meu colo, ganho o mundo e o título de grande paparica. Conto piadas e chamo-o pelo nome e seus olhinhos seguem a voz que busca uma resposta, ainda que por ligeiros resmungos de quem faz força pra conversar. E se fecho um pouco os olhos, já imagino o futuro: um moleque levado, cheio de saúde, correndo pela casa, assustando os pombos na praça, caindo de bicicleta, ralando o joelho no futebol, sujando a cara de muito chocolate e quebrando a cabeça para decorar a tabuada. Embalado pelos pensamentos nessa fantástica viagem que é a vida, de repente, vejo-me segurando suas pequenas mãozinhas que juntas cabem folgadamente numa só palma de minha mão. E é um anjo, um anjinho de olhos azuis, tão pequenino, um milagre que nos conduz.

Será amado e motivo de orgulho de seus pais, avós, tios e de seu padrinho, que não cabe em si de tanta emoção em poder abençoá-lo com todo o amor que tiver e puder multiplicar. Será protegido e motivado a ser grande, bom menino e educado. Será o que quiser, médico ou engenheiro, e terá todo o apoio para inventar mundos fantásticos repletos de brinquedos e canções. E não há exagero em dizer que é um anjo, um anjinho de olhos azuis, tão pequenino, um milagre que nos conduz.

E bobo, mais do que sempre fui, sorrio abertamente ao vê-lo acordar e se espreguiçar com seus bracinhos que delicados alcançam o céu. Seu cheirinho, sua perninha fofinha pedala, louca por andar. As bochechas cheinhas clamam por ser apertadas e a boquinha sempre à procura do notável talento materno. Suas mãozinhas fechadas se abrem quando busca a segurança daqueles que o amam e novamente se fecham fortemente ao possuir tal proteção. Sempre sorri depois que espirra – sua primeira mania. Sua calma pra chorar e preguiça para espernear faz-nos dizer: “Que bebê bonzinho!”. Tão bonzinho, que concluímos acertadamente que nasceu para o bem, pela tranquilidade que tem, mas acima de tudo pela expressão da doce e ingênua face de quem acabou de conversar com Deus. E é um anjo, um anjinho de olhos azuis, tão pequenino, um milagre que nos conduz.

Você vê aquela linda criatura e passa, de repente, a entender a vida e contempla, enfim, o amor de verdade. E aí, enche-se de um orgulho imenso e quase explode de alegria com as novidades diárias que aquela vidinha lhe traz em cada ato que se revela. Por mais simples que pareçam, você vê esplendor em tudo e percebe então que a felicidade é bem mais simples do que pintavam. Assume, então, um compromisso consigo mesmo de defender aquela vida até o fim. Se pega sorrindo sozinho e, de repente, ao se olhar no espelho, você vê a vida passar com propósito e enxerga, enfim, sua própria alma. Por isso, não há como negar: é um anjo, um anjinho de olhos azuis, tão pequenino, um milagre que nos conduz: anjo Miguel.

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