Palavreando - 13 de junho

Por Wanderson Nogueira
sexta-feira, 12 de junho de 2009
por Jornal A Voz da Serra

Amores impossíveis

Há algo de irresistível num amor impossível, desses que beiram a designação de causa perdida. Talvez ao não ser impossível, perca o sentido de ser amor! E todos os amores são impossíveis, tanto quanto improváveis, mas sempre providos de loucura e poesia. Se não fosse a dose de vinho solitária, as rosas murchariam na ausência de lágrimas. Nem todas as lágrimas são tristes e ainda que tristes fazem a rosa manter-se viva.

Amores impossíveis produzem músicas, constroem poesias, estagnam o homem, destroem impérios, fazem guerra! Um amor impossível é sempre embrulhado por incompreensíveis razões. É declaração rasgada sem temor e quase sempre engolida como veneno doce que mata pouco a pouco, que corta a garganta, apunhala o coração, rouba a alma e ainda assim não é taxado de cruel. Porque amores impossíveis dão a vida ao mesmo compasso que lhe roubam os dias. É a falta de equilíbrio que faz o acrobata desabar da corda bamba, e, tudo que deseja o acrobata é desabar da corda bamba.

Um amor impossível é o sonho de quem nunca sonhou, é a verdade que cala a discussão acerca das teorias da vida e também da morte. É a dúvida que surge quando se instala a certeza do que se sente. É a falta de controle e a sensação de se perder conscientemente. É perdição constante de quem perde a respiração e tem, feliz, as pernas bambas. Um amor impossível te traz a sensação de que os braços estão no lugar errado e que o coração lhe escapou voando por aí, navegando pelo céu e flutuando pelo mar.

E amores impossíveis são tão bons quanto ruins, pois se impossível machuca, marca para sempre a alma, mas se possível deixa de ser amor impossível para ser só mais um amor, desses que estão aos montes nas prateleiras, desses que correm o risco de acabar pelo natural desgaste do tempo. Amores impossíveis são sempre completos pelo simples desejo de serem completos, de alcançarem a imensidão que não cabe no universo e que só é possível nos sonhos de um menino perdido num planeta solitário com uma rosa à espera, à eterna espera. E na impossibilidade de existir, também se torna impossível inexistir. Para um louco o sonho não acaba nunca!

Há certa dor no silêncio. Há certo pavor no burburinho das multidões. E amores impossíveis vestem essa dor e esse pavor ao ponto que é esse intervalo de sossego que incomoda ao mesmo tempo em que é esse turbilhão que tumultua a alma. E encontra na calmaria seu movimento e despedaça na agitação ao encontrar um pouco de ordem. Amores impossíveis não podem ter textos coerentes, tampouco frases que se encontram, é desespero e fascinação, mas nunca um desperdício. É se sentir vivo, tão vivo como jamais antes. E ainda que imprestável à vida, se prestar a escrever o restante da história mesmo que seja impossível terminá-la. Recusar as propostas de morte em vida fácil e entender que desperdício é temer os amores impossíveis. Tudo o que se quer é o tal amor impossível, arrebatador, pleno e impossível como um sonho bom sendo igualmente bom na realidade.

Amores impossíveis não podem deixar de ser impossíveis. Na ausência da impossibilidade perdem os versos da poesia, tiram a cor da rosa, areiam o gosto do vinho, confundem os acordes da música, tiram todo o interesse que há na história. Não sei se o amor está para o impossível ou se o impossível está para o amor, o que sei é que há algo intenso, extremamente irresistível nos amores impossíveis. Talvez seja o pouco que falta para que seja completo, que o faz completo, ou a dificuldade que impõe em permitir adeuses fugazes, que o faz eterno.

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