Monalisa
Um dia você acorda de um sonho bom. No outro, no meio da madrugada, acorda assustado de um pesadelo. Há outros, no entanto, que você nem se lembra do que sonhou e só acorda por causa do incômodo despertador que insiste em te convidar para mais um dia. Mais um dia...
E dia após dia a façanha da vida se desenha por nossas mãos até que nossas mãos se dão, se confundem, se perdem, se entrelaçam, por acaso, destino ou o que quer que você queira chamar esse intruso futuro que talvez no passado possa receber um nome diferente do presente. Mãos que se encontram, se desencontram e acenam chamando para vir ou para se despedir. O problema é que a gente nunca sabe direito o que significa cada aceno e acaba por perceber apenas num outro dia desses, que vem de repente, bem repentinamente, quase sem fazer estardalhaço. É o que uns chamam de quando a ficha cai, outros de já não era sem tempo e ainda há aqueles que dirão um dia de cada vez, nada como um dia após o outro ou é preciso seguir. É preciso seguir sempre.
É Shakespeare tinha razão: o mundo não para para que consertemos nosso coração. A vida prossegue para o pobre, o rico, o cego, o surdo, o saudável, a vida segue seu curso como um rio sedento por chegar ao mar. A diferença é que o rio sabe que mais cedo ou mais tarde vai chegar ao mar. Também chegaremos a algum lugar, estamos indo sem parar, parando vez e outra para brincar na roda-gigante ou para simplesmente recuperar o fôlego seja no nada ou no tudo que um abraço pode se tornar.
Por mais que nos diferenciemos uns dos outros e teimemos em nos achar especiais, somos relativamente parecidos quando colocamos na prateleira da vida aquilo que queremos. Queremos ser felizes a todo custo, mas não de qualquer maneira. A diferença surge então quando evocamos a calculadora da vida. Ela é individual, cada um tem a sua. É nela que medimos o quanto podemos suportar e o quanto estamos dispostos a dar. O fato é que uns tem mais tempo, outros menos. Uns gostam de quilometragens mais altas, outros menores. Uns dosam isto ou aquilo e exageram nisto ou naquilo e vice-versa. Cria-se aí um maravilhoso universo de possibilidades em que para a conta fechar é inevitavelmente preciso priorizar.
Não dá para ser tudo ao mesmo tempo por mais que se queira ser loiro e moreno, advogado e juiz, jogador de futebol e cantor. É preciso fazer escolhas e é geralmente aí que mora o saboroso risco de se perder e também a deliciosa humildade de saber voltar. Mas somos ferozes e estamos a toda velocidade ainda que se ande devagar. A roda furiosa gira e não dá para perder tempo. Sim! Dá para se perder de si mesmo, mas não dá para perder tempo voltando atrás. É verdade! A vida não dá segundas chances. Mas ela é uma só, só se vive uma vez. Por isso, não dá para se desvencilhar daquilo que realmente lhe faz e fará feliz. Por isso, ao fazer escolhas, ao invés de procurar um guru ou explicações nas estrelas, pergunte-se: O que realmente me fará feliz? É a resposta a essa pergunta, que não é simples, que nos garantirá seguramente o título de especial.
Há quem dê o mundo por poder, há quem mate por vaidade, há quem roube por riqueza, mas há também quem migalhe por amor, há quem dê tudo o que tem por paz e há quem dedique todo o seu tempo a alguém. Na busca pela felicidade há de tudo, desde grandes artes a pequenos atos havendo várias formas de diferenciar o que é grande do que é pequeno. Monalisa pode ser um pequeno ato perante a grande arte que é dar as mãos.
A felicidade é simples ainda que seja necessário priorizar isto ou aquilo, escolher aquele ou este caminho, passando por sonhos, pesadelos e coisas das quais nem se lembrará, mas é preciso tentar ser especial, não para ser diferente, mas para fechar bem essa conta toda de se dar, confundir, perder e entrelaçar.
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