Palavreando - 11 de julho

Por Wanderson Nogueira
sexta-feira, 10 de julho de 2009
por Jornal A Voz da Serra

Antagonismos

A vida é cheia de paradoxos, algumas ideias do que é ou pode ser e muitos, muitos antagonismos. Não há verdade alguma no que os outros dizem, mas pode haver muita verdade naquilo que a gente escuta. Porém, não há como negar as interessantes revelações vindas após as reticências de cada história. Assim...

As melhores coisas da vida são aquelas das quais não temos controle, isso faz com que nos sintamos vivos. O risco, a ansiedade, a insanidade ou a sanidade em demasia, o calor na alma e a inquietação do coração... A espera, a revelação, dar tudo que pode e ainda sim não saber se o tudo foi suficiente para alcançar o todo. Simplesmente porque ganhar e perder deixa de ter tanta importância quando a felicidade basta.

Quanto mais se sabe, menos se conhece. E quanto mais se acumula saber, mais vulnerável você se torna para si mesmo, afinal admite que sabe muito pouco perante o tanto que há por saber. Na busca por aprendizados aprende que quanto mais se aprende mais tolo se é! E ainda que menos ignorante, sempre sobra um pouco de ignorância ao tentar entender aquilo que não se explica como aquela dança ou aquele olhar.

Quando passamos muitas vezes por um mesmo lugar deveríamos conhecê-lo mais, reparar cada detalhe, cada nuance ao ponto de poder descrevê-lo com esplêndida exatidão. Mas não. Quando passamos muitas vezes por um mesmo lugar passamos a despercebê-lo por se tornar comum demais, deixamos de lado seus detalhes mais lindos. E esse é o grande defeito do ser humano: nunca se aprofundar muito quando é no intenso que moram as mais repletas descobertas.

Se nos aprofundássemos mais em qualquer um dos extremos desse antagonismo todo que é a vida não seríamos tão incoerentes. E somos indecentes, pouco pornográficos ao nos esquivarmos do medo. Se não tivéssemos tanto medo, seríamos talvez menos complexos, mais completos, tiraríamos essas roupas que nos impedem de correr e dançar.

Por mais que os opostos se atraiam, são os iguais que se juntam. As diferenças são abismos e mesmo que o amor nos dê asas velozes para voar, essas asas perdem a motivação de voar quando batem constantemente no muro das imperfeições. Esse muro se agigante, vira montanha que nem a mais terna ponte pode transpassar. Para se unir a alguém, as imperfeições têm que ser perfeitas para o outro e vice-versa.

O contrário do amor não é ódio, o contrário do amor é a indiferença. Se olha e não vê, não sente, e, nem amor ou ódio o visitará, apenas indiferença infimamente próxima à inexistência daquilo ou daquele que se põe à sua frente. Mas a partir do momento que se repara e se vê algo ou alguém, ainda que aplacado pela cegueira e o será, o sentimento se faz presente e não há como fugir. Você tomará caminhos e formará opinião e isso mudará para sempre os seus dias e os passos da sua dança.

Olhamos nos olhos e podemos não ver nada atrás daquele mundo, mas ao penetrar naquele olhar e emergir o segredo de que por trás daqueles olhos há mistérios, então se descortina um universo. E cada olhar é um universo, cheio de atalhos que levam à perdição ou a caminhos longos quase estendidos ao infinito.

Até beleza cansa e perfeição é chata. Se a vida sempre tivesse que ter um sentido... As coisas que mais tememos são as mais propensas a serem as melhores. A perfeição limita a busca e sem busca não há vida. Se a vida é prazerosa é porque é temível e tudo que é temível dispensa previsões, porquês e longas explicações... Se mergulha nisso e só. Mergulhar pode não ser a escolha perfeita, mas o que se encontra no fundo de tudo pode ser o imperfeito que lhe faz dispensar tudo que pensou acerca de perfeição. Aproximar-se de deuses é perigoso, mas não há porque invejar os deuses quando se é mortal. Eles nunca sucumbem aos que amam.

E esse doce antagonismo pode ser amargo, mas é delicioso enquanto não satura a língua e corrói a alma. Porque a vida é uma dança de passos errantes e nem sempre se pode dançar como a música quando a música que importa é a que faz espetáculo no coração.

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